terça-feira, 9 de junho de 2015

Uns Aos Outros

Bom, antes de mais nada, gostaria de lhe desejar um bom dia, boa tarde ou boa noite. Não sei exatamente que horas ou em que momento do dia você estará lendo esse texto.

Em segundo lugar, gostaria de pedir perdão pela minha terrível escrita poética, pela minha clara falta de habilidade em formular uma frase que pareça ter sentido e pela enxurrada de clichês que você lerá a seguir (é que é difícil me livrar deles quando o centro do monólogo é você). Jamais terei metade da sua sensibilidade, da sua intimidade com a caneta e o papel e da sua capacidade de transformar uma situação constrangedora no momento mais engraçado do mundo.

Lembro-me que uma vez você me disse que o amor nos tira alguém aparentemente “bom” para nos dar alguém melhor. Nunca pude concordar mais com algo que você tenha dito na vida. Tão sensato quanto profético ao mesmo tempo. Aliás, acho que essa foi a única vez em que eu concordei com algo que você tenha dito. “Melhor” é sempre bem-vindo, ainda mais quando você descobre que esse “melhor” sabe como adornar e aquecer um coração tão bem quanto qualquer Deusa que já tenha existido.

Em um de seus devaneios loucos, você disse que se estivéssemos em um filme, eu certamente seria aquele motoqueiro de jaqueta de couro que nunca vai às aulas mas só tira notas boas, ao passo que você seria o meu fiel escudeiro. Agora imagina só se esse filme fosse dirigido pelo John Hughes... Certamente seria uma obra-prima inquestionável. Um registro irretocável sobre nossos vinte e poucos anos. Já faltamos a quase todas as aulas, já temos a jaqueta de couro, o fabuloso gosto musical, o All Star surrado e a garota dos sonhos. Agora só falta começar a tirar notas boas.

O meu conceito de lealdade, determinação e bondade mudaram depois que te conheci. A sensação de solidão deu lugar à completude. No começo era como se eu estivesse olhando para um espelho, onde via cada átomo, cada célula e cada infinito da minha loucura refletidos de maneira magistral ali. E até hoje permanece assim. Nunca pude compreender como alguém pode se preocupar basicamente com as mesmas coisas que eu e ser tão parecido comigo quanto diferente ao mesmo tempo. Talvez eu encontre as respostas olhando mais de perto pra esse intenso sonho lúcido que é o seu mundo.

Uma das maiores lições que pude aprender contigo foi a de que amar é como se jogar de um trem em movimento: você pode cair numa plantação de flores campestres, num rio doce ou num emaranhado de espinhos. Eu poderia redigir uma monografia, um tratado, uma tese completa de mestrado ou doutorado sobre o que é cair num emaranhado de espinhos. E por falar em espinhos, acredito que nós dois somos especialistas neles, hein?! Quando você me falou que o amor é um vespeiro que eu nunca deveria cutucar, por um milésimo de segundo quis acreditar em você e seguir suas palavras (o que teria sido bem menos doloroso, né, vamos combinar), mas o meu medo do desconhecido e a minha vontade de desbravá-lo falou mais alto. E não é isso o que realmente somos? Errantes, aventureiros, neuróticos, artistas e paranóicos? Todos ao mesmo tempo, sem tirar nem pôr, sempre ingerindo bebida alcoólica suficiente para começar a divagar sobre qual o melhor caminho a percorrer, sobre as viagens temporais e interestelares, sobre poesia romântica surrealista de jovens adultos ingênuos e ousados, sobre o passado, sobre o presente e sobre o futuro simultaneamente, e como teria sido bom se tivéssemos sido sugados por um buraco negro, só pela curiosidade de saber como é ou o que nos espera do outro lado. Ainda acho que a melhor forma de viajar no tempo é através das palavras. Isso Einstein não previu.

Aprendi com você que nenhum sofrimento do mundo é insuportável quando se assiste aos filmes fundamentais, quando se conhece as bandas essenciais e quando se tem as pessoas certas pra te trazer de volta quando você bater no chão.

Admiro o fato de você ter reencontrado a felicidade e ter reconstruído seu mundo tijolo por tijolo, sinapse por sinapse, artéria por artéria, molécula por molécula, mesmo depois de uma tenebrosa tempestade negra ter ameaçado levar embora a única coisa com a qual você se importa nessa vida: o amor (e você sabe que mesmo ela batendo na sua cintura, ela é muito maior que você, mais sensata e sempre estará do pé à cabeça coberta de razão, por mais que seja complicado, às vezes, tentar entender os seus motivos).

Bravura e coragem parecem ter sido feitos pra você, pois sem eles você jamais teria passado por esse emaranhado de espinhos e permanecido com o coração tão maior do que era antes. Mas é o que dizem por aí: as coisas precisam ficar erradas antes de ficarem certas.

Todos os poetas mortos, trovadores românticos dos séculos passados e cantores apaixonados contemporâneos invejariam a sua capacidade de falar sobre o amor sem parecer cínico, clichê, insolente, óbvio, absurdo ou abusado.

Desde o início dos tempos, quando a humanidade começou a dar os seus primeiros passos em direção à plenitude; quando as primeiras formas de vida subaquática foram criadas; quando os resquícios daquele asteróide enorme que caiu por aqui deu origem à Lua; quando a gravidade tratou de nos mostrar qual é o nosso lugar no mundo; quando os antigos deuses-astronautas ergueram pirâmides colossais, construções monumentais e o Stonehenge há milhares de anos nesse globo; quando o Rio Nilo encontrou o seu caminho para a glória; quando a escuridão celestial abriu espaço para a pequena gotícula que é a terra nesse enorme oceano cósmico, nunca houve alguém que soube produzir beleza e manipular os quatro elementos tão bem quanto você.



Você está preparado para a verdade? Então lá vai.


01   - Brócolis com molho shoyu é uma delícia. Achei que um cara saudável e vigoroso como você saberia disso, mas tô vendo que me enganei terrivelmente nisso também.

02   - O final de How I Met Your Mother é brilhante!!! Isso é um fato incontestável. Poderia ter sido clichê? Poderia, mas foi doloroso, complicado e difícil de aceitar. Assim é a vida.

03   – Eu sei que você nunca se manifestou sobre isso, mas deixa eu te dizer uma coisa antes que você possa formar uma opinião: Coca-Cola é melhor que Pepsi, aceite esta realidade. Quem fala o contrário é porque quer pagar de cult, revolucionário e entendedor da psique humana.

04   – O AM do Arctic Monkeys é uma ofensa inacreditável, mas vai confessar que você não fica arrepiado quando toca No.1 Party Anthem, Mad Sounds ou I Wanna Be Yours? Pense a respeito. Lide com isso como um adulto.

05   - O Oasis poderia ter sido a melhor banda do mundo se no lugar do Liam Gallagher tivéssemos o John Lennon cantando, desculpa a sinceridade.

06   - De 0 a 10, eu te daria um 8. Os 2 restantes eu deixaria para completar na próxima vez em que você se comportar de maneira displicente, esnobe ou simplesmente der de ombros quando eu te indicar alguma banda nova (o que pode vir a acontecer amanhã mesmo ou na semana que vem). Uma atitude tanto louvável quanto desprezível, diga-se de passagem.

07   – Os finais de Efeito Borboleta (tanto o original quanto o alternativo) e o AM do Wilco são absurdamente maravilhosos. A propósito, acho que essa é a única coisa com a qual você concorda comigo na vida.

08   - Não faço a mínima ideia de como terminar esse texto (aliás, também invejo esse seu talento de terminar textos com versos e estrofes impactantes de arremate), mas rezo todos os dias para que um dia a natureza me torne alguém tão doce, amoroso, gentil, sensível, lírico, influído, lúcido, engraçado e otimista quanto você.




No fim de todas as coisas que conhecemos por matéria, quando as cortinas se fecharem anunciando o encerramento do espetáculo, não fique apavorado, pois na essência de tudo que é eterno nós somos apenas poeira cósmica, condenados a embarcar em uma incrível e perpétua jornada pelas estrelas.

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