Bom, antes de mais
nada, gostaria de lhe desejar um bom dia, boa tarde ou boa noite. Não sei
exatamente que horas ou em que momento do dia você estará lendo esse texto.
Em segundo lugar,
gostaria de pedir perdão pela minha terrível escrita poética, pela minha clara
falta de habilidade em formular uma frase que pareça ter sentido e pela
enxurrada de clichês que você lerá a seguir (é que é difícil me livrar deles
quando o centro do monólogo é você). Jamais terei metade da sua sensibilidade,
da sua intimidade com a caneta e o papel e da sua capacidade de transformar uma
situação constrangedora no momento mais engraçado do mundo.
Lembro-me que uma vez
você me disse que o amor nos tira alguém aparentemente “bom” para nos dar
alguém melhor. Nunca pude concordar mais com algo que você tenha dito na vida.
Tão sensato quanto profético ao mesmo tempo. Aliás, acho que essa foi a única
vez em que eu concordei com algo que você tenha dito. “Melhor” é sempre bem-vindo,
ainda mais quando você descobre que esse “melhor” sabe como adornar e aquecer
um coração tão bem quanto qualquer Deusa que já tenha existido.
Em um de seus
devaneios loucos, você disse que se estivéssemos em um filme, eu certamente
seria aquele motoqueiro de jaqueta de couro que nunca vai às aulas mas só tira
notas boas, ao passo que você seria o meu fiel escudeiro. Agora imagina só se
esse filme fosse dirigido pelo John Hughes... Certamente seria uma obra-prima
inquestionável. Um registro irretocável sobre nossos vinte e poucos anos. Já
faltamos a quase todas as aulas, já temos a jaqueta de couro, o fabuloso gosto
musical, o All Star surrado e a garota dos sonhos. Agora só falta começar a
tirar notas boas.
O meu conceito de
lealdade, determinação e bondade mudaram depois que te conheci. A sensação de
solidão deu lugar à completude. No começo era como se eu estivesse olhando para
um espelho, onde via cada átomo, cada célula e cada infinito da minha loucura refletidos
de maneira magistral ali. E até hoje permanece assim. Nunca pude compreender
como alguém pode se preocupar basicamente com as mesmas coisas que eu e ser tão
parecido comigo quanto diferente ao mesmo tempo. Talvez eu encontre as
respostas olhando mais de perto pra esse intenso sonho lúcido que é o seu
mundo.
Uma das maiores
lições que pude aprender contigo foi a de que amar é como se jogar de um trem
em movimento: você pode cair numa plantação de flores campestres, num rio doce
ou num emaranhado de espinhos. Eu poderia redigir uma monografia, um tratado, uma
tese completa de mestrado ou doutorado sobre o que é cair num emaranhado de
espinhos. E por falar em espinhos, acredito que nós dois somos especialistas
neles, hein?! Quando você me falou que o amor é um vespeiro que eu nunca
deveria cutucar, por um milésimo de segundo quis acreditar em você e seguir
suas palavras (o que teria sido bem menos doloroso, né, vamos combinar), mas o
meu medo do desconhecido e a minha vontade de desbravá-lo falou mais alto. E
não é isso o que realmente somos? Errantes, aventureiros, neuróticos, artistas
e paranóicos? Todos ao mesmo tempo, sem tirar nem pôr, sempre ingerindo bebida
alcoólica suficiente para começar a divagar sobre qual o melhor caminho a
percorrer, sobre as viagens temporais e interestelares, sobre poesia romântica
surrealista de jovens adultos ingênuos e ousados, sobre o passado, sobre o
presente e sobre o futuro simultaneamente, e como teria sido bom se tivéssemos
sido sugados por um buraco negro, só pela curiosidade de saber como é ou o que
nos espera do outro lado. Ainda acho que a melhor forma de viajar no tempo é
através das palavras. Isso Einstein não previu.
Aprendi com você que
nenhum sofrimento do mundo é insuportável quando se assiste aos filmes
fundamentais, quando se conhece as bandas essenciais e quando se tem as pessoas
certas pra te trazer de volta quando você bater no chão.
Admiro o fato de você
ter reencontrado a felicidade e ter reconstruído seu mundo tijolo por tijolo,
sinapse por sinapse, artéria por artéria, molécula por molécula, mesmo depois
de uma tenebrosa tempestade negra ter ameaçado levar embora a única coisa com a
qual você se importa nessa vida: o amor (e você sabe que mesmo ela batendo na
sua cintura, ela é muito maior que você, mais sensata e sempre estará do pé à
cabeça coberta de razão, por mais que seja complicado, às vezes, tentar
entender os seus motivos).
Bravura e coragem
parecem ter sido feitos pra você, pois sem eles você jamais teria passado por
esse emaranhado de espinhos e permanecido com o coração tão maior do que era
antes. Mas é o que dizem por aí: as coisas precisam ficar erradas antes de
ficarem certas.
Todos os poetas
mortos, trovadores românticos dos séculos passados e cantores apaixonados
contemporâneos invejariam a sua capacidade de falar sobre o amor sem parecer cínico,
clichê, insolente, óbvio, absurdo ou abusado.
Desde o início dos
tempos, quando a humanidade começou a dar os seus primeiros passos em direção à
plenitude; quando as primeiras formas de vida subaquática foram criadas; quando
os resquícios daquele asteróide enorme que caiu por aqui deu origem à Lua;
quando a gravidade tratou de nos mostrar qual é o nosso lugar no mundo; quando os
antigos deuses-astronautas ergueram pirâmides colossais, construções
monumentais e o Stonehenge há milhares de anos nesse globo; quando o Rio Nilo
encontrou o seu caminho para a glória; quando a escuridão celestial abriu
espaço para a pequena gotícula que é a terra nesse enorme oceano cósmico, nunca
houve alguém que soube produzir beleza e manipular os quatro elementos tão bem
quanto você.
Você está preparado
para a verdade? Então lá vai.
01 -
Brócolis com molho shoyu é uma delícia. Achei que um cara saudável e vigoroso
como você saberia disso, mas tô vendo que me enganei terrivelmente nisso
também.
02 -
O final de How I Met Your Mother é brilhante!!! Isso é um fato incontestável.
Poderia ter sido clichê? Poderia, mas foi doloroso, complicado e difícil de
aceitar. Assim é a vida.
03 –
Eu sei que você nunca se manifestou sobre isso, mas deixa eu te dizer uma coisa
antes que você possa formar uma opinião: Coca-Cola é melhor que Pepsi, aceite
esta realidade. Quem fala o contrário é porque quer pagar de cult, revolucionário e entendedor da
psique humana.
04 –
O AM do Arctic Monkeys é uma ofensa inacreditável, mas vai confessar que você
não fica arrepiado quando toca No.1 Party Anthem, Mad Sounds ou I Wanna Be
Yours? Pense a respeito. Lide com isso como um adulto.
05 -
O Oasis poderia ter sido a melhor banda do mundo se no lugar do Liam Gallagher
tivéssemos o John Lennon cantando, desculpa a sinceridade.
06 -
De 0 a 10, eu te daria um 8. Os 2 restantes eu deixaria para completar na
próxima vez em que você se comportar de maneira displicente, esnobe ou
simplesmente der de ombros quando eu te indicar alguma banda nova (o que pode
vir a acontecer amanhã mesmo ou na semana que vem). Uma atitude tanto louvável
quanto desprezível, diga-se de passagem.
07 –
Os finais de Efeito Borboleta (tanto o original quanto o alternativo) e o AM do
Wilco são absurdamente maravilhosos. A propósito, acho
que essa é a única coisa com a qual você concorda comigo na vida.
08 -
Não faço a mínima ideia de como terminar esse texto (aliás, também invejo esse
seu talento de terminar textos com versos e estrofes impactantes de arremate),
mas rezo todos os dias para que um dia a natureza me torne alguém tão doce,
amoroso, gentil, sensível, lírico, influído, lúcido, engraçado e otimista
quanto você.
No fim de todas as
coisas que conhecemos por matéria, quando as cortinas se fecharem anunciando o encerramento
do espetáculo, não fique apavorado, pois na essência de tudo que é eterno nós
somos apenas poeira cósmica, condenados a embarcar em uma incrível e perpétua jornada
pelas estrelas.
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