terça-feira, 2 de junho de 2015

Queda Livre #3

Parte I – Refresh (ou Eco)

Se você começou a ler esse texto, você acaba de ativar o elemento escriptor e agora não tem como mais voltar atrás. “Mas o que diabos é isso?” você deve estar se perguntando. Bom, a surpresa é que eu também não sei, mas se você quiser ir até o final, vá por sua conta e risco. Primeiramente desculpas pelo excesso de melodrama que certamente você notará banhado em cada palavra e cada linha desse texto até o fim, é que fica difícil falar sobre um assunto tão delicado sem apelar pro lado mais mesquinho e egoísta da minha alma.
A essa altura do campeonato você já deve saber que tentar fazer com que ela acredite no amor novamente – por mais que você acredite que esta é uma tarefa passível de sucesso – seria tão fácil e eficaz quanto acelerar um átomo na velocidade da luz ou resolver uma equação de segundo grau de olhos vendados. E admita que você nunca foi bom em física quântica, nem em matemática. Ela é mais esperta que você, mais inteligente, determinada, mais delicada, mais pura, mais dócil, mais teimosa e mais cabeça dura também. Você é um amontoado de erros irremediáveis. Talvez o seu maior erro foi ter pensado que fazê-la acreditar novamente fosse uma tarefa sua, sendo que essa tarefa é dela. Essencialmente dela. De ninguém mais. A minha tarefa é te trazer de volta à realidade quando você estiver encarando o nada na busca das soluções para os seus teoremas e de uma cura para a sua paranóia, como se essa fosse a atividade mais intelectual e produtiva do mundo.
Você fez tudo que um ser humano normal poderia fazer para que as coisas dessem certo: ergueu um império celestial invejável, travou batalhas épicas na Lua com demônios e dragões megalomaníacos, canhestros, débeis, egoístas e invejosos só para conseguir conquistar um lugar na mesma Lua que ela construiu pra vocês dois; inventou de enfiar uma bomba nuclear dentro do Sol, só para que ele brilhasse mais forte quando as nuvens espessas dos dias nublados ameaçassem monopolizar os céus; construiu uma estrela dentro de outra estrela; agradou a gregos e troianos todas as vezes que viu que isso era necessário para manter o equilíbrio e afagou delicadamente cada centímetro da sua pele branca, só para sentir o que é ser a pessoa mais feliz do mundo, mesmo que por breves segundos.
Você se lembra qual foi a sensação de assistir Star Wars pela primeira vez? Você enfiou na cabeça a ideia de que precisava realizar um ato tão grandioso quanto o de Luke e da Aliança Rebelde, destruir a sua própria estrela da morte. Bom, acho que esse será o seu ato grandioso. Fazê-la acreditar. Mas lembre-se que se ela nunca mais deixar que essa flor perene fecunde em seu coração novamente, saiba que a culpa é inteiramente dela também, e só dela. De mais ninguém. Mas também isso não é o fim do mundo, é? Então é assim que as coisas acabam? Não. O amor não é pra todo mundo mesmo. Lembre-se disso.
Amá-la é como ouvir Miles Davis numa tarde de sexta-feira, e você é só amargura, pensamentos impuros e vícios de linguagem. Você é só um amontoado de erros irremediáveis. Sempre confiou nas pessoas que menos acreditaram em você. Talvez ela entenda melhor do amor do que você... ou não também. Talvez ela entenda melhor que você mesmo essa bagunça obscura que é o seu mundo. Nunca se sabe. Mas agora você sabe que a chama do amor não queima para sempre, é o que eles dizem. Essa taça de vinho só é digna de ser compartilhada com aqueles que tem a coragem de ir colher direto da videira.




Parte II – Granada (Ou o avesso do avesso)

Talvez a sua maior qualidade é também o seu maior defeito: perfeccionista demais. Tão preocupado em encontrar sensatez, bondade e lucidez nos outros, sendo que não consegue encontrar isso em você mesmo. Lamentável. É claro que se ela quisesse, ela poderia acreditar novamente (como se isso fosse uma questão de escolha). É óbvio que não é tão simples assim. Se fosse, todos escolheriam amar, todos escolheriam acreditar e envelheceriam juntos. Mesmo que seus corações tivessem sido esmagados pelo peso insuportável e pela violência catastrófica de um asteróide enorme e flamejante, destruindo qualquer otimismo e esperança dentro de você, sempre terá alguém lá fora a espera do seu amor.
O inesquecível John Keating disse em A Sociedade dos Poetas Mortos que medicina, direito, administração, engenharia etc, tudo isso é necessário pra vida, claro. Mas o que realmente importa é a poesia, é a lírica, a métrica, o inverso do que se diz, a busca incessante por algo que torne a vida mais suportável: o amor. Mas não é isso que todo mundo procura na vida? O amor puro, simples, poético e incondicional? Não é isso o que você tem procurado desde que começou a perceber o mundo ao seu redor? Me dói de maneira terrivelmente insuportável saber que você se recusa a acreditar no amor novamente. Me dói porque parece que nunca terei o seu amor enquanto nós dois existirmos e estivermos conectados, por mais que você saiba que ele exista. E você sabe tão bem. Lhe falta coragem para se entregar. Porra, se você não acredita mais, então o que é isso que nós estamos fazendo? Então nós dois somos uma mentira? A gente é uma mentira? Você é uma mentira e eu também? Tudo que eu te disser, tudo o que eu fizer, todos os meus gestos e demonstrações de afeto então serão uma grande mentira? Será tudo mentira pra você? Aparentemente, essa é a sua lógica. Nunca irei entender porque uma pessoa tão fabulosa como você gostaria de alguém como eu. Você é completa por doçura e delicadeza... e eu sou apenas um lunático, sensacionalista e arrogante. Mas o que eu penso que sou, ou até mesmo o que as pessoas pensam que sou é exatamente aquilo que eu não sou. Quanto mais eu penso, mais eu sofro. Só não acho justo você escolher viver desse jeito e deixar de acreditar em algo tão puro só porque alguém te fez sofrer e foi leviano, cruel e imbecil com você. É quase um insulto você me dizer que não acredita mais, pois é o mesmo que me dizer que o responsável pelo seu sofrimento passado foi a única pessoa que você foi e será capaz de amar na vida. É o mesmo que me dizer que nunca mais será capaz de amar ninguém, mesmo que eu seja o melhor pra você, mesmo que eles sejam os melhores pra você, mesmo que eu seja bom, mesmo que eu seja engraçado e carinhoso, mesmo que eu seja um filho da puta pervertido, mesmo que eu te beije com a força de mil trovões imponentes e furiosos. Você é a mesa e eu sou o prato.


A solidão é um estado intrínseco à alma, um sentimento inerente à condição humana... e o pior tipo de solidão é a solidão a dois. Tão esclarecedor. Graças a alguma intervenção divina as coisas nunca chegaram a esse ponto pra mim, mas vi as coisas desmoronarem e vi mil corpos caírem à minha direita, outros mil à minha esquerda. Levando em consideração todos os relacionamentos que já nasceram póstumos e observando a sequência inacreditável de erros cometidos por essas pessoas, concluo que é melhor ficar sozinho do que estar num relacionamento no qual você nunca será capaz de amar ou nunca será amado. Apenas aproveite o dia e faça com que sua vida seja extraordinária.

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