Parte I – Refresh (ou Eco)
Se
você começou a ler esse texto, você acaba de ativar o elemento escriptor e
agora não tem como mais voltar atrás. “Mas o que diabos é isso?” você deve
estar se perguntando. Bom, a surpresa é que eu também não sei, mas se você
quiser ir até o final, vá por sua conta e risco. Primeiramente desculpas pelo
excesso de melodrama que certamente você notará banhado em cada palavra e cada
linha desse texto até o fim, é que fica difícil falar sobre um assunto tão
delicado sem apelar pro lado mais mesquinho e egoísta da minha alma.
A
essa altura do campeonato você já deve saber que tentar fazer com que ela
acredite no amor novamente – por mais que você acredite que esta é uma tarefa
passível de sucesso – seria tão fácil e eficaz quanto acelerar um átomo na
velocidade da luz ou resolver uma equação de segundo grau de olhos vendados. E
admita que você nunca foi bom em física quântica, nem em matemática. Ela é mais
esperta que você, mais inteligente, determinada, mais delicada, mais pura, mais
dócil, mais teimosa e mais cabeça dura também. Você é um amontoado de erros
irremediáveis. Talvez o seu maior erro foi ter pensado que fazê-la acreditar
novamente fosse uma tarefa sua, sendo que essa tarefa é dela. Essencialmente
dela. De ninguém mais. A minha tarefa é te trazer de volta à realidade quando
você estiver encarando o nada na busca das soluções para os seus teoremas e de
uma cura para a sua paranóia, como se essa fosse a atividade mais intelectual e
produtiva do mundo.
Você
fez tudo que um ser humano normal poderia fazer para que as coisas dessem
certo: ergueu um império celestial invejável, travou batalhas épicas na Lua com
demônios e dragões megalomaníacos, canhestros, débeis, egoístas e invejosos só
para conseguir conquistar um lugar na mesma Lua que ela construiu pra vocês
dois; inventou de enfiar uma bomba nuclear dentro do Sol, só para que ele
brilhasse mais forte quando as nuvens espessas dos dias nublados ameaçassem
monopolizar os céus; construiu uma estrela dentro de outra estrela; agradou a
gregos e troianos todas as vezes que viu que isso era necessário para manter o
equilíbrio e afagou delicadamente cada centímetro da sua pele branca, só para
sentir o que é ser a pessoa mais feliz do mundo, mesmo que por breves segundos.
Você
se lembra qual foi a sensação de assistir Star Wars pela primeira vez? Você
enfiou na cabeça a ideia de que precisava realizar um ato tão grandioso quanto
o de Luke e da Aliança Rebelde, destruir a sua própria estrela da morte. Bom,
acho que esse será o seu ato grandioso. Fazê-la acreditar. Mas lembre-se que se
ela nunca mais deixar que essa flor perene fecunde em seu coração novamente,
saiba que a culpa é inteiramente dela também, e só dela. De mais ninguém. Mas
também isso não é o fim do mundo, é? Então é assim que as coisas acabam? Não. O
amor não é pra todo mundo mesmo. Lembre-se disso.
Amá-la
é como ouvir Miles Davis numa tarde de sexta-feira, e você é só amargura,
pensamentos impuros e vícios de linguagem. Você é só um amontoado de erros
irremediáveis. Sempre confiou nas pessoas que menos acreditaram em você. Talvez
ela entenda melhor do amor do que você... ou não também. Talvez ela entenda
melhor que você mesmo essa bagunça obscura que é o seu mundo. Nunca se sabe.
Mas agora você sabe que a chama do amor não queima para sempre, é o que eles
dizem. Essa taça de vinho só é digna de ser compartilhada com aqueles que tem a
coragem de ir colher direto da videira.
Parte II – Granada (Ou o avesso do avesso)
Talvez
a sua maior qualidade é também o seu maior defeito: perfeccionista demais. Tão
preocupado em encontrar sensatez, bondade e lucidez nos outros, sendo que não
consegue encontrar isso em você mesmo. Lamentável. É claro que se ela quisesse,
ela poderia acreditar novamente (como se isso fosse uma questão de escolha). É
óbvio que não é tão simples assim. Se fosse, todos escolheriam amar, todos
escolheriam acreditar e envelheceriam juntos. Mesmo que seus corações tivessem
sido esmagados pelo peso insuportável e pela violência catastrófica de um
asteróide enorme e flamejante, destruindo qualquer otimismo e esperança dentro
de você, sempre terá alguém lá fora a espera do seu amor.
O inesquecível John Keating disse em A Sociedade dos Poetas Mortos que medicina, direito,
administração, engenharia etc, tudo isso é necessário pra vida, claro. Mas o
que realmente importa é a poesia, é a lírica, a métrica, o inverso do que se
diz, a busca incessante por algo que torne a vida mais suportável: o amor. Mas
não é isso que todo mundo procura na vida? O amor puro, simples, poético e
incondicional? Não é isso o que você tem procurado desde que começou a perceber
o mundo ao seu redor? Me dói de maneira terrivelmente insuportável saber que
você se recusa a acreditar no amor novamente. Me dói porque parece que nunca
terei o seu amor enquanto nós dois existirmos e estivermos conectados, por mais
que você saiba que ele exista. E você sabe tão bem. Lhe falta coragem para se
entregar. Porra, se você não acredita mais, então o que é isso que nós estamos
fazendo? Então nós dois somos uma mentira? A gente é uma mentira? Você é uma
mentira e eu também? Tudo que eu te disser, tudo o que eu fizer, todos os meus
gestos e demonstrações de afeto então serão uma grande mentira? Será tudo
mentira pra você? Aparentemente, essa é a sua lógica. Nunca
irei entender porque uma pessoa tão fabulosa como você gostaria de alguém como
eu. Você é completa por doçura e delicadeza... e eu sou apenas um lunático, sensacionalista
e arrogante. Mas o que eu penso que sou, ou até mesmo o que as pessoas pensam
que sou é exatamente aquilo que eu não sou. Quanto mais eu penso, mais
eu sofro. Só não acho justo você escolher viver desse jeito e deixar de
acreditar em algo tão puro só porque alguém te fez sofrer e foi leviano, cruel
e imbecil com você. É quase um insulto você me dizer que não acredita mais,
pois é o mesmo que me dizer que o responsável pelo seu sofrimento passado foi a
única pessoa que você foi e será capaz de amar na vida. É o mesmo que me dizer
que nunca mais será capaz de amar ninguém, mesmo que eu seja o melhor pra
você, mesmo que eles sejam os melhores pra você, mesmo que eu seja bom, mesmo
que eu seja engraçado e carinhoso, mesmo que eu seja um filho da puta
pervertido, mesmo que eu te beije com a força de mil trovões imponentes e
furiosos. Você é a mesa e eu sou o prato.
A solidão é um estado intrínseco à alma, um sentimento inerente à condição humana... e o pior tipo de solidão é a solidão a dois. Tão esclarecedor. Graças a alguma intervenção divina as coisas nunca chegaram a esse ponto pra mim, mas vi as coisas desmoronarem e vi mil corpos caírem à minha direita, outros mil à minha esquerda. Levando em consideração todos os relacionamentos que já nasceram póstumos e observando a sequência inacreditável de erros cometidos por essas pessoas, concluo que é melhor ficar sozinho do que estar num relacionamento no qual você nunca será capaz de amar ou nunca será amado. Apenas aproveite o dia e faça com que sua vida seja extraordinária.
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