Parte I – Padrão Formântico
Recentemente
descobri que é mais fácil balancear um mol, multiplicar polinômios e acelerar
um átomo na velocidade da luz do que tentar entender o amor. Descobri que o
amor é coragem. Descobri que tentar entender o amor é tão eficaz quanto cavar
com uma colher até o Japão. Um amigo querido realizou um movimento lúdico com
as mãos e me ajudou a descobrir que felicidade pode ser tanto ouvir Wilco no
fim de tarde de uma sexta-feira, quanto caminhar de volta pra casa na companhia
de uma amiga recém conhecida, no último dia de aula, conversando trivialidades
enquanto a observa gesticular maravilhosamente com os braços. E todos aqueles
movimentos regidos pela sua fala só não me parecem tão espetaculares quanto o
seu cabelo cor de sol brincando de dançar tango com o vento. Isso tudo até a
cortina celestial cintilante lá no alto cobrir nossas cabeças. Felicidade é
você perceber o quanto esses pequenos momentos podem ser grandiosos, especiais
e repletos de significado. Descobri que o
mundo é banhado por uma quantidade inacreditável de pessoas boas, mas também é
infestado de gente pequena, fria, hipócrita, egoísta, falsa, cínica e
dissimulada, que não sabe amar. Descobri também que amor é aquilo que acontece quando você
descobre aquela música nova e agradável de uma banda desconhecida e fica
ouvindo inúmeras, incontáveis e infinitas vezes sem enjoar. Certa vez, ouvindo
uma canção do Depeche Mode, descobri que palavras são triviais, e que só os
sentimentos são reais e intensos. Descobri que o amor é mais do que a ideia
convencional que todos têm sobre ele, pois assim eles aprenderam nas canções
populares e nos filmes hollywoodianos, como acordar ao lado de alguém
importante e especial, procriar e constituir família. Amor é mais, caralho! É
mais do que a dor. Amor é sonhar, vislumbrar, é deixar que um amigo saiba que
ele não precisa passar sozinho por um momento de dificuldade. É fazer um amigo
rir mesmo quando aparentemente não há motivo nenhum pra isso. Descobri que amor
próprio é matar alguém dentro de você e perceber que essa foi a decisão mais
sábia que você já tomou na vida, enquanto a observa morrer aos poucos.
Era
1º de Janeiro, de um ano que eu não consigo me lembrar agora. Estávamos vivendo
o primeiro dia do ano, e estávamos todos quietos, unidos, numa harmonia rara e
sincronizada, reunidos ao redor de uma mesa, saboreando o restante da comida
natalina que havia sobrado e sonhando o futuro, trocando olhares e sorrisos
enquanto um pernil generoso assava silenciosamente no forno. Foi nesse momento
que eu lembrei de uma série de contos do Raymond Carver que eu havia lido em
outra ocasião, chamada “De Que Falamos Quando Falamos De Amor”, em que ele
dizia assim: “Eu conseguia
ouvir meu coração batendo. Eu conseguia ouvir o coração de todo mundo. Eu
conseguia ouvir o ruído humano que nós, sentados lá, fazíamos, nenhum de nós se
moveu, nem mesmo quando a cozinha ficou escura”. Sentado ali eu realmente podia
ouvir o ruído humano, o coração de todos. Instantaneamente eu me surpreendi com
a capacidade que um momento pequeno tem de se encher de significado e compreendi
o real sentido do que é amar.
Parte II – Desconstruindo o Ontem
Nunca
entendi e nunca irei entender como alguém consegue se tornar tão incolor como
você se tornou em tão pouco tempo. Sua vida pode ser uma coisa boa agora,
mas com certeza não é a que você imagina. Pessoas estúpidas ao seu redor
enchendo a sua bola e tecendo uma malha de elogios e falsos comentários harmoniosos
pode parecer perfeitamente reconfortante e podem ser os elementos essenciais para
a composição da mise-en-scène do seu ego, mas isso só te dá uma breve ilusão de
segurança e uma confiança falsa e idiota, realçando de maneira extraordinária e
inacreditável a sua arrogância irritante de jovem-adulta ingênua, que nada sabe
do mundo (nem do amor), para algumas pessoas que estão ao seu redor, que te
amam e que são dotadas de uma percepção aflorada. Até consigo imaginar como
você se sente: como quem se joga de um prédio de 15 andares na esperança de que
vai voar, ao invés de se espatifar no chão, se partindo em mil pedaços (acredite,
eu também já me senti assim); você se sente intocável, fantástica e
deslumbrante, abençoada com o dom da sensatez; você se sente como uma pessoa
que todos querem estar por perto (mas, eventualmente, todos acabam se afastando
quando descobrem que você é mais nociva do que heroína, mais letal do que um
tumor no cérebro e mais murcha do que uma ameixa); você se sente como um soro
da verdade e da confiança, mas na realidade, está mais para soro da estupidez.
Todo esse teatro humano construído a sua volta me dá uma ideia bem clara e
concisa de quem você é, e isso me dá nojo, me dá ânsia de vômito e me faz
perceber que o seu coração não passa de um quarto vazio, uma rua esquecida pelo
tempo que não serve de alimento nem para a saudade.
Talvez
futuros acadêmicos, trabalhos e outras coisas mais podem passar por sua cabeça,
como a de qualquer um, mas uma coisa é certa: você é um desastre no
amor! Você nunca vai entender qual é o real motivo que ele tinha, porque
ele esteve em sua cara o tempo todo, todo mundo viu, menos você. Um dia,
você vai se sentir só, (porque isso acontece com todos e apesar de você ser um
cacho de reticências, é tão errada como todo mundo - ou mais -) e quando isso
acontecer, você vai olhar para trás e sentir uma nostalgia tão profunda que vai
prender sua garganta, e quando isso vier à tona, eu espero sinceramente que
você se arrependa de onde chegou e de quem escolheu para estar ao seu lado,
porque será alguém que você não queria que fosse. Porque ele esteve ao seu
lado 10 horas ou mais (ou menos) por dia e você nem se quer se comprometeu a
entender, nem se quer se comprometeu a retribuir a gentileza daqueles que te
diziam muita coisa sem nem abrir a boca, apenas com um afago no seu rosto; nem
se quer se comprometeu a ser coerente, grata, justa e honrosa em vista ao
esforço extenuante, à generosidade incalculável, à gentileza, aos carinhos, ao
afã e ao afeto dos que te amaram verdadeiramente.
Você
é um erro inabitável!
Todos
nós somos bêbados, amando, bebendo ou espiritando... mas você, meu bem, nunca
irá embriagar-se em sua vida, porque o amor é feito para pessoas raras,
sensacionalistas e eternas. O amor parece ser algo nobre demais pra habitar teu
peito: um ambiente inóspito, insosso, xucro e congelado. É com imensa
infelicidade, com um desprazer meticulosamente orquestrado e com um alívio
flamejante e aplacador que eu, no auge da minha mocidade, depois de entender a
mecânica do tempo, estudar por muito tempo de maneira intensa todos os caminhos
que você tomou, todas as suas atitudes, sua conduta pífia, patética e bizarra
em relação à nossa bela e fugaz aventura bimestral, chego à
conclusão de que você não é a Ninfa, a Morena, a Boneca, a Bússula, o Mar, a
Deusa, o Cais, o Porto Seguro, o Verão, a Primavera e Outono, a Jóia, a Menina
e a Estrela que eu achei que fosse, mas sim o que eu sempre sonhei durante a
noite... e o que eu mais desprezo pela manhã. Eu achei que você poderia me
fazer bem, mas vejo que me enganei terrivelmente. Triste é constatar de maneira
sincera e sem remorso que todos os caminhos que você tomou moldaram
maravilhosamente bem a imagem da pessoa que você sempre foi: uma pessoa mimada,
vazia, fútil e disforme que gosta de brincar com pessoas como se fossem
marionetes, mas não percebe que você é a marionete principal nesse teatro que
você mesma construiu para si. Descobri que na equação da existência humana,
você é o “X” que eu nunca consegui encontrar o valor, apesar das inúmeras
tentativas. Você é mais suja que a França no século XIX, um desastre, em todos
os sentidos possíveis, e o mundo que você desenhou só é habitável pra você e
pros caprichos de uma menina insegura, cuja a imaturidade e a insensibilidade
parecem ser infindáveis.
E
amar nunca foi sua praia, porque convenhamos, você nunca veio do mar.
gostei especialmente da tag, "termodinâmica". poetry in a nutshell. tava aqui pensando no que te falei durante os últimos tempos. termodinâmica é a palavra. e é gratificante entender também como cada um de nós tem um núcleo interno (coloquei isso numa música), que dita nosso calor, nossa luz própria; é isso que importa, não? a luz que emanamos ao mundo! gostei disso no seu texto, e lembro-me também de uma frase: "a escuridão nada mais é que a ausência de luz". é bom entender que cada um está num processo interno, modificado pelos nossos deuses internos, o caráter, a ética, a moral. a natureza destes, caetaneamente deixo que morem na filosofia, mas admito que ainda são e sempre serão um mistério pra mim, objeto de estudo do direito, que começa onde termina o do outro. como me sinto feliz ao me ver hoje completamente como seu irmão, maduros, nossos mundos e núcleos se conectam na extrema fronteira de nossos espíritos, onde terminam nossos direitos individuais, onde nascem os nossos em intersecção. os meus e os seus. os seus e os dela. todos irmãos, em eterna confraternização em guerra. uns menos ou mais. nós, sempre, sejamos os mesmos soldados, do mesmo exército, das diferenças semelhantes que acostumamos em nós. para que morramos como heróis; o maior ensinamento que você me passou até hoje, me modificou profundamente. numa moldura clara e simples, esse texto é você. bonitos demais!
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