quinta-feira, 25 de setembro de 2014

Joia do Infinito

Vi você murmurar algumas inverdades a meu respeito e depois sorrir carinhosamente, como se já soubesse onde começa e termina a minha dor
Vi você me castigar com os olhos
Daquele jeito brilhante, peculiar e petulante que você sempre faz quando começo a tagarelar abobrinhas de maneira quase incontrolável
Vi você protegendo seu coração com um invólucro do qual você se recusa a se libertar
Vi você escondendo seus próprios mistérios para alimentar a sensação ilusória de controle sobre alguma coisa
Vi você com um coração na mão, não sei se era o seu ou o meu
Vi você perder o ar diante do meu toque e perder a tranqüilidade antes mesmo d’eu chegar
Vi seu coração disparar a cada movimento meu, mas não te vi chorar
Vi sua voz se calar perante a minha e vi você segurar as lágrimas diante de uma demonstração de carinho
Vi a pureza do seu coração banir a maldade e trazer de volta a claridade ao meu mundo
Vi você subestimar a tristeza
Vi você surgir abruptamente de outra extremidade, como quem pega carona num vórtice temporal
Vi meu passado ficar azul, meu futuro vermelho, meu presente caótico e meu coração sazonal
Vi você me calar com tua chegada e me sufocar com a partida
Vi você de mãos dadas com o acaso e de caso com a sorte
Entoando cânticos divinos nos meus ouvidos e irradiando sedução, glória, charme e simpatia por todas as ruas da cidade
Vi o sol cobrindo teus passos e desaparecendo atrás da sua casa antes que a primavera chegasse
Vi você fugir dos olhares maliciosos e dos julgamentos maldosos de alguns meliantes pouco perceptivos
Vi você beber da água da fonte onde nasce o amor
Vi você amar outra pessoa que não era eu
Vi você se desdobrar em duas, duas mil, driblar as intempéries do cotidiano, correr contra o tempo e transpor os obstáculos do dia-a-dia, só para perceber depois que você não precisa abraçar o mundo sozinha e que ninguém precisa ficar bem o tempo todo
Vi você me puxando de volta à superfície antes que eu fosse a náufrago
Para depois se afogar num denso mar de incertezas e indecisões
Vi você perdendo o sossego e a paz antes do seu coração tratar de reorganizar tudo dentro de ti
Vi tua gaveta de meias revirada
Vi você falando sobre o futuro, um futuro do qual eu não fazia parte
Vi você me negar com todos os dedos das mãos
Vi você confundir meus diálogos com trechos de músicas obscuras, me conquistar com suas desenvolturas ousadas e me fazer escravo do teu sorriso
Vi você me transformar em poeta, louco, malandro, sonhador, músico, escritor, sonâmbulo, apaixonado, amigo do tempo, amante da natureza, das estações, e inimigo da solidão

Vi você voltar
Vi você reinar sobre mim e, aos poucos, se transformar na minha joia do infinito.

segunda-feira, 22 de setembro de 2014

Ninfa

Num raio de 600 quilômetros
Você é, provavelmente, a pessoa mais doce que alguém poderia conhecer
Mas é a moça mais enigmática e indecifrável também
O que você tem de divertida, linda, incrível, perspicaz, delicada, inteligente, carismática e graciosa, tua alma tem de misteriosa e ao mesmo tempo magnífica, mística e pura
Mas é maravilhoso esse teu sorriso, e o outono foi a maior dádiva que Deus poderia ter lhe dado
Confiaria minha vida nas tuas mãos e furaria a fila na porta da tua casa todos os dias às 6h, só para ganhar o seu abraço
Se eu pudesse colocar numa música tudo o que você representa pra mim nesse presente, essa música tocaria nas rádios durante todo o mês de maio
Você brilha como uma estrela ainda não catalogada pelos astrônomos
E a beleza que te fortifica dia após dia, a força da sua presença e o 
Seu auto-controle são fenômenos que nunca poderão ser previstos pelos meteorologistas, muito menos decodificados pelos poetas mais eruditos
Aliás, esse seu auto-controle é algo admirável e terrivelmente assustador também, talvez essa seja sua maior habilidade atualmente
Talvez eu tenha pegado carona na calda de um cometa e me perdido entre os corpos celestiais
Talvez eu tenha me apaixonado pelo jeito que você anda
Pela sua pele cor de bronze
Pelos seus olhos entrepostos
Pelo jeito que seu cabelo balança contra o vento
Pela sua voz suave de menina acanhada
Pelo modo como você sorri mesmo depois de uma tarde extenuante e enfadonha de atividades acadêmicas
Eu retrocederia o tempo até o momento em que te vi pela primeira vez e faria tudo igual, mesmo sabendo do risco de perder meu sossego novamente
Faria a prova, me alimentaria com o medo da mudança
Entraria naquela sala e esperaria você passar atirando suas flechas no meio do alvo posicionado bem no centro do meu peito.

Deixa eu te contar sobre um sonho que eu tive
Um sonho onde você corria sobre um tapete de flores silvestres, numa tarde ensolarada de terça-feira
Enquanto o vento fazia ondas sutis no teu longo vestido de algodão
Eu caí no chão, te presenteei com o sol, peguei na tua mão e fui andando contigo pra algum lugar
onde nenhuma sombra, nenhum medo e nenhum inverno pudesse nos alcançar
Nós dois, juntos e imersos no mais completo absurdo, dobramos as lacunas do espaço-tempo e enganamos o silêncio mais uma vez
Como quem brinca de Deus a colorir os céus e os mares com todos os tons de azul que pudéssemos imaginar
Só pra ver a beleza cintilante e a sutileza plena da tua alma se atrelar à pequenez da minha num momento só nosso
Pensei em algumas palavras simples que pudessem traduzir a sinceridade da tua beleza, palavras que só fariam sentido pra você e eu, mas todas elas foram varridas da minha mente no momento em que deitaste sobre mim
E de longe eu vi seus olhos reluzirem e congelarem sob a neblina fina, acompanhados por um sorriso bobo e singelo, como dois cometas fleumáticos cortando a escuridão inebriante dos céus.

Queria poder te abraçar todos os dias só pra sentir o aroma fresco de mar que emana do seu cabelo quando ele arranha meu nariz.
Queria poder compartilhar contigo todas as ideias estúpidas, as propostas indecentes e os planos sobre a gente, que rondam minha cabeça quando estou ao seu lado.
Se meu cartão tivesse limite e o céu estivesse à venda, passaria todas as constelações, todos os astros, todas as estrelas em 12x e te entregaria uma por uma: uma a cada mês do ano, mesmo sabendo que isso seria meloso demais e muito pouco poético.
Queria poder dividir com você todo o meu amor, minhas tardes de domingo, meus pacotes de jujuba, todas as minhas tralhas, minhas quinquilharias, minhas meias, meus átomos, minhas piadas geniais, meu acervo pessoal de adjetivos direcionados exclusivamente a você e que só podem existir enquanto você sobreviver, meu conhecimento enciclopédico de filmes, minha coleção sofisticada de discos, meu gosto musical duvidoso, o abrigo quente das minhas cobertas, minha escova de dente, minha poesia, meus finais de semana, minhas roupas de cama, meu shampoo, minha casa no campo (se eu tivesse alguma), minhas loucuras, meu rock, minhas fraquezas, todas as minhas angústias, meus anseios e minhas inseguranças, te dizer todos os dias que te amo, e inventar qualquer desculpa esfarrapada pra poder te ver fora do horário comercial.
Poderia até viver a sina de um Deus, para decorar meu quarto com uma fotografia do teu sorriso, remodelar os mares, redefinir as luzes, as cores, unificar todas as galáxias e reconstruir o mundo de uma maneira que fosse perfeito pra nós dois.

Por fim, eu amarraria o céu com os fios quebrados do meu cabelo e o traria um pouco mais pra perto de ti, só para que você soubesse o que é acordar todos os dias saboreando as nuvens.

terça-feira, 2 de setembro de 2014

Delito

Já passam das 2 da manhã
E teu sorriso ainda me assombra num sonho tempestuoso
O seu toque me despedaça como soda cáustica
Minha pele queima e sucumbe à tua alquimia ácida
Teus braços quentes envolvem meu pescoço flácido
E com um sopro de vida, nós cometemos o mais terrível dos pecados
Recobro a consciência
Sinto teu rosto repousando levemente sobre meu peito frágil
Com a mesma delicadeza de uma gota de orvalho beijando a terra
Meus sinais vitais correm contra o tempo
E diminuem gradativamente na tela do monitor
Cada célula minha se esvai como areia no vento
Você foi responsável pelo meu alento
Arranho três acordes ralos no violão, perco a minha paz
Te dedico todas as canções de amor
E te beijo como um trovão feroz a percorrer os céus
Te dedico meus dias, choro mais uma vez no teu colo
(Logo eu que costumava ser como um leão valente...)
Me acostumo com a tua inconstância
E passo a admirar suas decisões mesmo quando elas não me favorecem
Entendo suas fraquezas, aprendo a conviver com teu lado obscuro
Um afago no seu rosto simétrico, um pedido de desculpas
Agarro tua pele morena e tu és agora a minha senhora
A vida pode ser turbulenta agora
Tudo pode parecer tão dolorido, tão óbvio e selvagem
Mas você tomou a decisão certa
E agora, nós estamos brincando de viver
Adiando o inevitável/ o impossível/ o absurdo
Portanto, esqueça tudo que te faz mal
Pois anularei seus medos e sustentarei teu sorriso com meu olhar
Segurarei teus braços e dançarei contigo essa valsa
No nosso baile de formatura.

Tu beijas minha testa e desfere o teu golpe de misericórdia
A gente se ama por alguns segundos
Meus dias se tornam mais claros
E como uma autêntica ilusionista, você esconde de mim suas cartas
Prestidigitando teu sofrimento apenas com um movimento suave de tuas mãos
Que é pra afastar o mau agouro, resgatar sua tranquilidade e regular
as batidas descompassadas que grudam em teu peito quando me aproximo
E eu caio na sua armadilha
Faço o seu jogo
Ora perco, ora ganho, ora me perco
Parece que voltou na defensiva, meio hostil
Tão amarga quanto vinagre
Pois percebeu que a distância não levaria embora tua agonia
Apesar do cartaz que ainda ostenta com orgulho
Uma fantasia de carnaval que te veste e te cobre absoluta
Mas ainda assim pegou um atalho e tomou decisões detestáveis
para se livrar desse suplício que é me querer
Como um sentimento tão frágil pode durar tanto tempo?

Eu entrego os pontos antes mesmo de você desistir da luta
Nado num mar de breves infortúnios, quase sem fôlego
Me silencio com a tua presença sublime, adorável, meiga & oceânica
Me desmantelo em dez pedaços
Me despedaço e me calo como um menino bobo, inexperiente
Nesse momento minha irreverência irritante vira pó
E o meu amor se transforma num generoso cálice de vinho
Que tu bebes sem culpa até a última gota
Só pra ter o prazer de me ver desarmado
E daqui do chão, ainda fragmentado,
Reúno todas as minhas cotas de amor
Te dissolvo na minha dor
E vislumbro um mundo nosso
Um mundo seu
Você e eu, o céu e o mar.

Pela manhã ainda me encontro desmontado
Mas quando chega a tarde
Você cata meus cacos
E eu renasço por inteiro
Forte, destemido, desinibido, visceral & furioso
Me refaço com teu cheiro glorioso, doce e angelical de gardênia
Ou seria lírio, tulipa, oliva, enzimas de aminoácidos eucarióticas?
Tanta gaveta pra bagunçar e eu fui bagunçar logo a de meias
Meias palavras, meias verdades.

Me deixa ser seu verão
Seu porto seguro
Eu quero estragar teu futuro
E ser teu amante
Eu quero estragar tua vida positivamente
                                                     [---- Deixa eu ser seu erro.