terça-feira, 12 de agosto de 2014

Meridional

parte I - Prólogo: Sobre Te Querer


Há 1 ano atrás eu me encontrava em estado lastimável
Completamente sem foco, sem direção, sem objetivo
Aí veio o edital, a inscrição, a prova
O resultado, o medo, a preguiça, a ansiedade,
a matrícula, você, a faculdade, o mundo novo,
Você de novo.
Eu nunca soube lidar muito bem com princípios, com mudanças
Sempre tive medo de sair desse pequeno invólucro lamentável
Que construí para tentar preencher o vazio e fugir um pouco
Da minha rotina degradante, além de alimentar a falsa
Sensação e ilusão de que tenho controle sobre minha vida
Também nunca fui muito bom de rima/ de dar passos importantes
Nunca tomei curso de métrica
Mas sentimento é coisa séria
E precisamos escolher com sabedoria
as palavras que irão representá-los.
Parece que foi ontem que estávamos
Sentados num daqueles bancos
Quando você me olhou cheia de si e disse que eu falo muita merda
E que meus exageros são divertidos
Ou sobre as inúmeras outras vezes
Em que você me mandou falar baixo
Fazendo questão de me humilhar e enaltecer
O meu exímio talento de abrir a boca pra falar besteira
Ou da vez que você me mandou - com rispidez -
parar de te mandar mensagens, por causa dos fatores externos
E depois veio desesperada se redimindo
Como se o seu comportamento tivesse me deixado magoado
Ou daquela vez em que eu – cheio de intenções - te vi caminhando apressadamente
Com tuas passadas sincrônicas e formosas
Dentro daquele auditório fechado
Poluído de gente mal intencionada
Segurando aquela sua saia enorme de cair
Prestes a me apunhalar impiedosamente no peito
Minutos antes de assinar o meu atestado de óbito
Mesmo sem saber
Foi aí que eu chorei
Feito um matuto ao ver o Mar pela primeira vez
E você não precisou alimentar nada em mim
Nem tentou me alcançar, apenas me seduziu
E eu me apaixonei dentro daquele auditório fechado.

Como as coisas podem mudar tanto em tão pouco tempo?



parte II - Insurgência: Sobre Te Esperar


Houve um corte temporal.
Sentado naquele banco contigo
Com a paisagem celestial nos escoltando lá do alto
Eu olhava com desprezo e inquietação
Para todos os ônibus que passavam
Desejando que o seu demorasse uma eternidade
Para que eu pudesse ficar mais um tempo com você
Me perdendo no seu sorriso
Nas curvas do seu corpo imaculado
Contemplando seus cachos
Suas pernas grossas
Sua cintura fina
Seu olhar perscrutador, castanho e oblíquo
Como se estivesse tentando descortinar minha agonia
Para que ainda me sobrasse tempo de te falar mais algumas besteiras
E te fazer mais propostas indecentes
Antes de você ir embora e levar meu coração contigo
Pois mais cedo ou mais tarde o seu ônibus passaria
E seguiria implacável rumo à cidade
Me distanciando do teu corpo modelado
Pelos próprios deuses
Feito um artefato sagrado e inviolável
Adornado de doçura & proporcional à sua idade
Em que eu sempre faço questão de tocar
Mesmo sem saber até aonde eu posso tocar
Mas eu preciso
Nem que seja apenas para beijar as suas mãos mornas de ternura
Que é pra ver se você se descontrola
Esquece um pouco da razão
E seja minha por apenas alguns segundos.

Reduto de toda a beleza
Aurora de todo sentimento
Minha história contínua
Caminho não percorrido,
Você sempre leva meu coração embora contigo
Quando entra naquele ônibus
E eu tento sintonizar a cabeça com o coração
Afastar a melancolia que volta quando você vai embora
Fingir que está tudo bem
E aí você se despede e me recomenda
de maneira serena, sincera, porém quase debochada e presunçosa:
“Não chore não, viu?”
Como se estivesse antecipando o meu pranto
Mas logo me sinto privilegiado/ envaidecido
Quando leio esses teus versos vespertinos
E me sinto honrado ao ler
Todas as coisas simples e lindas
Que você escreve com sentimentos reais
Mesmo quando você teima em se enganar
Usando a mesma desculpa esfarrapada de sempre
De que é só o “personagem” (até parece)
Às vezes eu me pego nesses momentos de fragilidade emocional
E me sinto um pouco ridículo
Quando tento transformar o Sol numa bússola
Que aponta pra uma só direção
Que me norteia pra perto de ti
Com a incerteza de que você vai estar lá para me receber
Ou quando deito a cabeça sobre minhas mãos no travesseiro
E você aparece de ousada nos meus sonhos
Sem ser convidada
Mas logo acordo novamente
E conto até 10 para abrir os olhos
Na esperança de que você esteja lá
Para me presentear com o seu jeito meigo e adorável
de sentenciar: “você é doido, Marcus!”
E aí eu percebo o quanto eu sou patético:
Quando tento adivinhar com qual roupa
Você está vestida neste momento enquanto está lendo isso
E se o seu cabelo estará preso ou solto
Dançando deliciosamente com o vento
Na próxima vez que eu te encontrar.
Te esperarei...
De novo. 



parte III - Apoteose: Sobre Te Perder


Outro corte no tempo
Não sei se você percebeu,
Mas meu cérebro trabalha de maneira incrivelmente curiosa.
A essa altura do campeonato
Eu já estou acostumado com esses versos alcalinos e corrosivos
Anestesiado pela saudade
Que castiga meu peito violentamente quando você ta longe
E o tempo é um algoz que passa rastejando impiedosamente nesses momentos
Os ponteiros no relógio se petrificam
Acelerando ainda mais a minha inquietação/ minha angústia/
minha ansiedade/ meu medo
E o jogo permanece no zero a zero
Pois não houve gol nem pelo impedimento.

Parece que foi ontem que estávamos sentados num daqueles bancos
E você me contava despretensiosamente
Sobre seus planos para o futuro
Enquanto eu ouvia com atenção
E tentava sorver teu cheiro para dentro de mim
E disse também que tinha medo de arriscar
De trocar o certo pelo duvidoso
E perceber depois que foi uma má decisão
Mesmo sabendo que amanhã vai ser melhor que hoje
E que eu me apaixonaria por você todos os dias.

Você insiste em dizer
Que nós somos diferentes
Sem notar a graça da diferença
Que os diferentes se complementam
Afinal,  “o erro é onde a sorte está”,
Como diria um sábio contemporâneo
E eu prefiro ser otimista e acreditar que a gente vai se vê logo
Pois tudo tem um lado bom
E esse otimismo eu herdei de você
Herança espiritual, não genética
Assim como eu queria absorver também sua boniteza
Cobrir de amor a sombra do medo que persegue seus passos
Beber das águas cristalinas de tuas nuvens carregadas de saudade
Mergulhar fundo no rio de suas palavras
E me esconder com você nesse lugar escuro
Onde mais nada nem ninguém importa
Que é onde você se mostra crua & sincera
Nua e, talvez, minha
Também aprendi a ser meio fofo com você
Daqui a pouco eu desembesto a chamar os outros pelo diminutivo
(a propósito, não sei se você sabe mas eu me sinto ridículo quando chamo seu nome daquela forma abreviada)
E além de tudo isso
Ainda tento me livrar de algumas de suas
manias irritantes
Como aquela de emendar
Minhas falas com alguma música
Agora, qualquer coisa que alguém fala aqui em casa
Eu me lembro de uma canção, que me lembra você
Que me faz perceber que você ta longe
E que eu virei refém não só dos seus encantos
Mas, também, das suas manias insuportáveis.

Desculpa por ter te tirado a plenitude
Por ter subvertido sua paz
Peço perdão por ter bagunçado as meias na sua gaveta
Justo agora quando você pensou que finalmente
Encontraria o equilíbrio com os fatores externos...
Na verdade, eu não me desculpo porra nenhuma
Pois tenho coisas mais importantes para me preocupar
Como tentar lembrar a cor do vestido que
você tava usando no dia em que anunciou sua existência
Naquele auditório fechado.



parte IV - Redenção: Sobre As Coisas Não Ditas


Um terceiro corte no tempo, voltamos pro banco.
Adoro quando a luz fraca do poste cai sobre tua face
Permitindo-me desfrutar de todas as infinitas nuances do seu sorriso
Porra, você fica tão irresistível sob a luz rala
que paira sobre aquele banco...
Aí você começa a falar, a se queixar da vida
De como sua mãe, super protetora, pega no seu pé
De como ela te vê inchada nas fotos
De como você não gosta de ficar
De cara fechada no meio de gente
Mesmo quando você tá triste
De como você acha bonito e ao mesmo tempo estranho
Quando eu falo seu nome
De como você riu e dançou até cair no chão
Ouvindo um CD velho que eu te dei
Só pra ter uma desculpa pra falar com você de novo
De como você provavelmente faria alguma merda
E me beijaria sem culpa
Se não estivesse atrelada aos fatores externos
E é nesse momento que eu te olho reflexivo
Me perco no teu olhar fundo, porém cintilante
Vejo o jeito como você sorri, me mostrando seu mundo
E me fazendo sentir parte dele
Entro em êxtase emocional e percebo
a alegria crescendo no meu peito
Só por estar mais uma vez ao seu lado
E o resto me escapa da memória
Porque você tem esse dom de me tirar a atenção
De proscrever minha frustração
De me embriagar com sua voz doce e melodiosa de veludo
De me inebriar com a sua beleza rarefeita/ rústica/
enigmática/ submarina
E me distrai com seu sorriso fácil/ doce/ pueril/ profético/ apaixonante
Fazendo-me sentir protegido contra as maldades do mundo
E imune às intenções espúrias de alguns delinquentes sórdidos
Que insistem em vomitar clichês e julgar-nos por motivos fúteis
Mas, por mais sábios que eles tentem
parecer com seus conselhos torpes e falaciosos,
Eles sempre serão falhos
Pois eles não têm ideia da real dimensão das coisas.
Quantos versos mais eu vou ter que escrever/
Por mais quantas noites eu vou ter que me perder
Pra tentar encontrar a frase que traduza de maneira
impecável o que eu sinto por você?
Espero que o tempo seja benevolente dessa vez
Pois eu nunca vi gente como eu realizar sonhos.



parte V - Epílogo: Meu Infinito Atual


Eu queria ter o passe livre
Pra te encher de carinho
Te afagar até você se acalmar e dormir quando precisasse
Te ninar feito uma boneca de pano frágil
E te segurar no meu colo
Com a dedicação que você merece
Com a delicadeza que teu corpo pede, para não te deixar quebrar
Te cercar de cuidados, saciar seus desejos
Seus fetiches, suas vaidades
Fitar tua boca se fechando em direção à minha
Seus lábios morenos percorrendo meu corpo
Só pra ver o Sol nascer no meu peito mais uma vez
E se pôr no seu rosto, depois das seis.
Enfim, fazer todas essas coisas de gente abestalhada e patética
Até o fim dos tempos, se você quisesse
Ou pelo menos até o fim do inverno
Onde você amanheceria do meu lado
Percebendo que era só coisa de momento
E teus olhos se abririam lentamente
Para que eu pudesse te contar um segredo:
Você é a criatura mais linda que eu conheci nos últimos 245 dias.

2 comentários:

  1. Quem diria que você, bem lá no fundo, tem uma escrita tão cativante e sensacional. Parabéns vei, sensível como batida de um navio. haha <3

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  2. Ora ora ora mas que o sorriso sensacional hmmm que maravilha hmmm beleza pura hmmm mas que delícia cara que surpresa agradável você por aqui, finalmente desfrutando dos prazeres romântico-sexxuais disponibilizados dentro do submundo espúrio, enigmático e obscuro do blogger.

    Porra, confesso que extrapolei um pouco os limites permitidos para a extensão do texto, mas esse eu tive que dar uma esticada pra ficar proporcional ao tamanho da minha frustração, da minha agonia, da minha saudade e da minha viadagem kkkkk.

    Mas é uma honra ler esse comentário vindo dessa pessoa ora cretina ora carinhosa que é você kkk. Afinal, como diria um meliante aí "tô aqui pra se exalar meus amores inacabados e chorar uma vida onde nada vai dar certo no final".

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