sexta-feira, 15 de agosto de 2014

Queda Livre #2

Hoje foi dia
De minha mãe dizer aqui em casa
Que você faz uma falta danada ---- [um disparate
Que você mancha de alegria nossas paredes ----- [uma heresia
Que você flerta despretensiosamente com o acaso -------[uma verdade
E quando vai embora, fica vazia a casa
Tão precisa quanto previsão meteorológica

Hoje ele acordou cedo
Querendo desbravar o mundo
Como quem brinca de arqueólogo no quintal
De pés descalços e olheiras circunspectas
Me perguntando: Porque você some assim?
Não conhece a peça, penso sarcástico

Hoje foi dia
De reclamarem tua ausência aqui em casa
Minha mãe sempre fala que você é um bom menino
Já eu penso em você como um legítimo facínora:
Não bebe, não fuma, nem fode
Extremamente talentoso com o violão
Cauteloso em suas declarações
Um exímio contador de piadas
Apreciador de boas canções
Bom companheiro de caminhadas
Péssimo conquistador de corações
Inimigo declarado do cinema europeu
Poeta, poetinha camarada
Sereno como ventos de maio
Domável e inversamente bravo como animal robusto
Pedra bruta inviolável, nunca perde o carisma
Pedra cúbica inalienável, aplacador de trovoadas
Educação de dar inveja aos mais nobres
fidalgos da realeza britânica
E mentiroso como meus versos póstumos

Alto/ pálido/ desengonçado/ esguio/ serelepe/
menino/ moleque/ malandro
Tem certos comentários que a gente faz calado
Mas reconheço com exatidão desgosto
Sem querer dar o braço a torcer, é claro
E com certa admiração pelas coisas imateriais:
Você faz uma falta danada.

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