sexta-feira, 15 de agosto de 2014

Queda Livre #2

Hoje foi dia
De minha mãe dizer aqui em casa
Que você faz uma falta danada ---- [um disparate
Que você mancha de alegria nossas paredes ----- [uma heresia
Que você flerta despretensiosamente com o acaso -------[uma verdade
E quando vai embora, fica vazia a casa
Tão precisa quanto previsão meteorológica

Hoje ele acordou cedo
Querendo desbravar o mundo
Como quem brinca de arqueólogo no quintal
De pés descalços e olheiras circunspectas
Me perguntando: Porque você some assim?
Não conhece a peça, penso sarcástico

Hoje foi dia
De reclamarem tua ausência aqui em casa
Minha mãe sempre fala que você é um bom menino
Já eu penso em você como um legítimo facínora:
Não bebe, não fuma, nem fode
Extremamente talentoso com o violão
Cauteloso em suas declarações
Um exímio contador de piadas
Apreciador de boas canções
Bom companheiro de caminhadas
Péssimo conquistador de corações
Inimigo declarado do cinema europeu
Poeta, poetinha camarada
Sereno como ventos de maio
Domável e inversamente bravo como animal robusto
Pedra bruta inviolável, nunca perde o carisma
Pedra cúbica inalienável, aplacador de trovoadas
Educação de dar inveja aos mais nobres
fidalgos da realeza britânica
E mentiroso como meus versos póstumos

Alto/ pálido/ desengonçado/ esguio/ serelepe/
menino/ moleque/ malandro
Tem certos comentários que a gente faz calado
Mas reconheço com exatidão desgosto
Sem querer dar o braço a torcer, é claro
E com certa admiração pelas coisas imateriais:
Você faz uma falta danada.

quinta-feira, 14 de agosto de 2014

Queda Livre #1

Primeiramente, vamos deixar claro uma coisa: essa não é uma carta de suicídio, e sim uma mensagem natalina para o seu duplo, um atestado de óbito. Você nunca foi feliz sozinho, então pare de enganar a si mesmo com essas concepções ridículas e ingênuas, de que a satisfação é a morte do desejo, de que é melhor, às vezes, apenas desejar algo do que realmente tê-lo. De certo modo, eu até sentia pena quando você dizia que não precisava ter ninguém do seu lado pra ser plenamente feliz, mas saiba que nunca deixei de te apoiar nas suas decisões, pois a maior parte do tempo em que você ficou sozinho enquanto seus amigos se deixavam seduzir pelas libertinagens selvagens e descompromissadas, você aprendeu com os erros dos outros. Sempre admirei o fato de você nunca ter se envolvido muito e preferido acreditar que existia alguma lógica por trás disso, te preparando pro dia em que algo realmente especial chegasse. Bom, talvez esse tenha sido o seu maior erro. Você nunca foi dono de fortaleza celestial, e quando era alvo de humilhações e comentários levianos a respeito da sua conduta infantil e puramente imatura, lembre-se de que você mereceu todos eles.

Em segundo lugar, antes que você comece a proferir injúrias e pragas que até o diabo reprovaria, do jeito que você sempre faz quando é contrariado, com seus ataques histéricos e desequilibrados, gostaria de esclarecer que fiz de tudo para não recorrer a ofensas, adjetivos depreciativos e jocosos a seu respeito nesse manifesto, mas é difícil abrir mão deles quando a pauta é você.

Em terceiro lugar, não importa onde você esteja agora, ou que tipo de ser humano você tenha se tornado, mas eu queria dizer o seguinte: o mínimo que eu esperava era que você reconhecesse que relacionamentos nunca te atraíram muito, e que você sempre foi muito covarde para eles. Espero honestamente que, ao encontrar essas anotações perdidas numa gaveta de um criado-mudo qualquer, você já esteja velho suficiente para perceber o quão descartável e degradante está sendo seu presente.

Peço também, em nome de todos os santos, que pare de falar sobre o amor, sobre outros sentimentos obscuros e iníquos que nunca fecundaram seu coração e só te levaram à ruína emocional e à mais pura consternação, te afundando no mais profundo poço de arrependimento e amargura por não ter se permitido sentir e se deixado enganar pela formosura de qualquer donzela insensível, completamente fora do raio de alcance desses poemas xucros, podres, pífios e sem importância que você escreveu com tanta sinceridade, mas que ninguém jamais leu. Deixa de ser trouxa e pare de ver o lado humano das pessoas, isso tá se tornando um vício, tá te fazendo escravo e tá te deixando sem cor, sem vida... apático.

Outra coisa também, antes que eu me esqueça: você sempre achou que esse negócio de “personagem” fosse pura baboseira, besteira e desculpa de quem é orgulhoso demais e tem medo de compartilhar seus sentimentos. Em até certo ponto eu concordo contigo, meu caro amigo, pois sempre lamentei o fato de você ter a criatividade limitada e nunca ter conseguido bolar situações fantasiosas e sentimentos imaginários pra escrever essas merdas que você chama de poesia. Quando eu olho com desdém e certo escárnio pro teu reflexo no espelho, lembro de como as coisas eram menos dolorosas quando a gente ainda não conhecia o mar. Sim, eram menos dolorosas, mas também eram meio sem graça, a vida parecia monocromática e a gente não tinha fôlego para escrever. O amor não-fecundado é seu combustível.

Quando sentir medo do escuro e tatear ao seu redor à procura de um porto seguro ou algo para te salvar, quero que feche os olhos por alguns instantes e tente se lembrar da mocidade, da casa, dos natais em família, do carnaval, dos filmes hollywoodianos de ação que você parou pra assistir na televisão com o seu pai, dos mesmos discos que seu pai ouvia incansavelmente todas as manhãs de domingo enquanto entornava o elixir da vida, das raras vezes em que você cruzou com alguma garota e sentiu que Deus te botou nesse planeta imundo para estar com ela, das vezes raras que você olhou fundo nos olhos de uma moça, vislumbrou o mundo e se apaixonou pelos seus segredos, pelas suas curvas... Das pessoas que você magoou, das que ficaram pelo caminho, das que te amavam e das que tentaram te alcançar, mesmo que tenha sido apenas com um sorriso ou com um aceno tímido. Lembre-se dos textos ridículos e melosos, repletos de sensibilidade fajuta que você escreveu enquanto tentava alcançar as estrelas com as próprias mãos.

Sei que é pedir muito e que é algo quase impossível, mas no teu futuro incerto, quero te encontrar mudado, determinado, mais cínico também e mais realista, com uma árvore repleta de rosas secas e murchas no fundo da sua casa, pois você nunca a regou como regaste seu coração com falsas promessas, sorrisos enganosos, olhares maliciosos, julgamentos superficiais e comentários falaciosos.

Quero ver pelo menos duas ou três rachaduras em cada cômodo do muquifo que você chamará de lar, e que, quando você olhar para elas, você perceba que todas essas notas sobre o amor só te afundaram ainda mais na lama densa e pastosa que é a sua ínfima existência.

Quero te ver com um ou dois filhos bastardos espalhados pelo mundo, mundo este que você nunca conheceu, pois sempre teve medo do que poderia encontrar ou de quem poderia amar se resolvesse sair da bolha que construiu sozinho, botar o pé pra fora do seu quarto e contrair essa doença terminal que todos chamam de “vida”, para se aventurar pelo submundo espúrio, ora enigmático ora obscuro e duvidoso da felicidade.

Quando você amanhece ranzinza numa manhã cinzenta de domingo, até já imagino o estado lamentável que vai passar o restante do dia, ouvindo músicas tristes, deitado na cama que você considerou por muito tempo como a terceira margem do seu rio, com a cabeça sobre o travesseiro, vez ou outra beliscando alguma coisa na cozinha, planejando dormir por mais 18 horas seguidas, como se o mundo lá fora não te importasse muito, recusando qualquer tipo de contato exterior, pensando naquela garota que, por uma intervenção cruel e sádica de algum filho da puta intitulado ‘acaso’, nunca foi sua. Me machuca te ver desse jeito, com tuas camisas furadas de banda, com teu cabelo rebelde, subversivo e sem corte, com seus tênis surrados, com seu pessimismo típico e sutil, com tua falta de trato peculiar e com a vontade de chorar que me dá quando sinto teu cheiro impregnado em todo perímetro das suas roupas de cama. Esse, talvez, foi o auge da sua juventude mesquinha, foi quando você achou que era verdadeiramente feliz, sem perceber que os dias gloriosos nunca chegariam.

Quero que pare de choramingar igual um lunático retardado pervertido manipulador e aceite o fato de que você nunca teve nada e que é tarde demais pra tentar correr atrás de alguma coisa. Talvez, as únicas coisas que tenham te sobrado foram:
01) As velhas camisetas quadriculadas, porém emboloradas, enterradas no fundo de suas gavetas;
03) As meias rasgadas que você usava para aquecer os pés sempre quando tava frio;
04) A vontade de ter um abraço apaixonado para te aquecer;
05) Suas calças de moletom que hoje batem no joelho, porque o tempo fez o favor de te esticar um bocado;
06) Os discos arranhados que você insiste em ouvir repetidamente durante o alvorecer da noite, em busca de uma fuga pros dias nublados;
07) As mais belas letras de canções que você queria ter escrito;
08) A sua tendência de deixar para depois as coisas importantes;
09) A sua dificuldade de dizer as coisas importantes;
10) Sua pré-disposição pra falar besteira em momentos inapropriados;
11) Os amigos que ainda hoje reclamam que você tá sumido, mas nunca foram te fazer uma visita;
12) Os bolsos furados de suas calças que você tanto tateava à procura de abrigo;
13) Os livros velhos na sua estante;
14) Alguns bottons e quadros de bandas que você pendurava orgulhosamente nas paredes do seu quarto;
15) Algumas fotos que você tirou de má vontade perdidas num HD;
16) A lembrança de um sorriso feminino doce e quente que repousou gentilmente sobre tua alma certa vez, mas que você deixou escapar como quem deixa escapar a própria vida pelas mãos.

Quero que perceba que todas as coisas que você nunca teve, foram as que mais desejou;
Que perceba que todas as pessoas para quem você deu as costas e ignorou, foram as que mais te amaram e te queriam por perto;
Que perceba o quão rápida, fugaz e passageira foi sua existência;
Que perceba que foste traído pelos seus próprios sentimentos;
Que perceba que suas lágrimas foram drenadas pela saudade;
Que perceba que você deveria ter valorizado mais um abraço, um aperto de mão, um telefonema de um amigo preocupado, os pássaros compondo melodias élficas e angelicais do outro lado da janela, anunciando a primavera, ou o simples rufar gotejante da chuva violentando o teu teto;
Que você nunca conseguiu o emprego dos sonhos, nem o carro do ano, nem o amor verdadeiro;
Que o Sol é pontual e que seu coração outrora mole, frouxo e ingênuo, hoje consumido pela arrogância, pelo abandono, pelo embuste e pelo desmazelo, bate com ajuda de aparelhos e não passa de uma casa velha, vazia e em ruínas, pronta para ser demolida a qualquer momento, quando você desejar.

terça-feira, 12 de agosto de 2014

Meridional

parte I - Prólogo: Sobre Te Querer


Há 1 ano atrás eu me encontrava em estado lastimável
Completamente sem foco, sem direção, sem objetivo
Aí veio o edital, a inscrição, a prova
O resultado, o medo, a preguiça, a ansiedade,
a matrícula, você, a faculdade, o mundo novo,
Você de novo.
Eu nunca soube lidar muito bem com princípios, com mudanças
Sempre tive medo de sair desse pequeno invólucro lamentável
Que construí para tentar preencher o vazio e fugir um pouco
Da minha rotina degradante, além de alimentar a falsa
Sensação e ilusão de que tenho controle sobre minha vida
Também nunca fui muito bom de rima/ de dar passos importantes
Nunca tomei curso de métrica
Mas sentimento é coisa séria
E precisamos escolher com sabedoria
as palavras que irão representá-los.
Parece que foi ontem que estávamos
Sentados num daqueles bancos
Quando você me olhou cheia de si e disse que eu falo muita merda
E que meus exageros são divertidos
Ou sobre as inúmeras outras vezes
Em que você me mandou falar baixo
Fazendo questão de me humilhar e enaltecer
O meu exímio talento de abrir a boca pra falar besteira
Ou da vez que você me mandou - com rispidez -
parar de te mandar mensagens, por causa dos fatores externos
E depois veio desesperada se redimindo
Como se o seu comportamento tivesse me deixado magoado
Ou daquela vez em que eu – cheio de intenções - te vi caminhando apressadamente
Com tuas passadas sincrônicas e formosas
Dentro daquele auditório fechado
Poluído de gente mal intencionada
Segurando aquela sua saia enorme de cair
Prestes a me apunhalar impiedosamente no peito
Minutos antes de assinar o meu atestado de óbito
Mesmo sem saber
Foi aí que eu chorei
Feito um matuto ao ver o Mar pela primeira vez
E você não precisou alimentar nada em mim
Nem tentou me alcançar, apenas me seduziu
E eu me apaixonei dentro daquele auditório fechado.

Como as coisas podem mudar tanto em tão pouco tempo?



parte II - Insurgência: Sobre Te Esperar


Houve um corte temporal.
Sentado naquele banco contigo
Com a paisagem celestial nos escoltando lá do alto
Eu olhava com desprezo e inquietação
Para todos os ônibus que passavam
Desejando que o seu demorasse uma eternidade
Para que eu pudesse ficar mais um tempo com você
Me perdendo no seu sorriso
Nas curvas do seu corpo imaculado
Contemplando seus cachos
Suas pernas grossas
Sua cintura fina
Seu olhar perscrutador, castanho e oblíquo
Como se estivesse tentando descortinar minha agonia
Para que ainda me sobrasse tempo de te falar mais algumas besteiras
E te fazer mais propostas indecentes
Antes de você ir embora e levar meu coração contigo
Pois mais cedo ou mais tarde o seu ônibus passaria
E seguiria implacável rumo à cidade
Me distanciando do teu corpo modelado
Pelos próprios deuses
Feito um artefato sagrado e inviolável
Adornado de doçura & proporcional à sua idade
Em que eu sempre faço questão de tocar
Mesmo sem saber até aonde eu posso tocar
Mas eu preciso
Nem que seja apenas para beijar as suas mãos mornas de ternura
Que é pra ver se você se descontrola
Esquece um pouco da razão
E seja minha por apenas alguns segundos.

Reduto de toda a beleza
Aurora de todo sentimento
Minha história contínua
Caminho não percorrido,
Você sempre leva meu coração embora contigo
Quando entra naquele ônibus
E eu tento sintonizar a cabeça com o coração
Afastar a melancolia que volta quando você vai embora
Fingir que está tudo bem
E aí você se despede e me recomenda
de maneira serena, sincera, porém quase debochada e presunçosa:
“Não chore não, viu?”
Como se estivesse antecipando o meu pranto
Mas logo me sinto privilegiado/ envaidecido
Quando leio esses teus versos vespertinos
E me sinto honrado ao ler
Todas as coisas simples e lindas
Que você escreve com sentimentos reais
Mesmo quando você teima em se enganar
Usando a mesma desculpa esfarrapada de sempre
De que é só o “personagem” (até parece)
Às vezes eu me pego nesses momentos de fragilidade emocional
E me sinto um pouco ridículo
Quando tento transformar o Sol numa bússola
Que aponta pra uma só direção
Que me norteia pra perto de ti
Com a incerteza de que você vai estar lá para me receber
Ou quando deito a cabeça sobre minhas mãos no travesseiro
E você aparece de ousada nos meus sonhos
Sem ser convidada
Mas logo acordo novamente
E conto até 10 para abrir os olhos
Na esperança de que você esteja lá
Para me presentear com o seu jeito meigo e adorável
de sentenciar: “você é doido, Marcus!”
E aí eu percebo o quanto eu sou patético:
Quando tento adivinhar com qual roupa
Você está vestida neste momento enquanto está lendo isso
E se o seu cabelo estará preso ou solto
Dançando deliciosamente com o vento
Na próxima vez que eu te encontrar.
Te esperarei...
De novo. 



parte III - Apoteose: Sobre Te Perder


Outro corte no tempo
Não sei se você percebeu,
Mas meu cérebro trabalha de maneira incrivelmente curiosa.
A essa altura do campeonato
Eu já estou acostumado com esses versos alcalinos e corrosivos
Anestesiado pela saudade
Que castiga meu peito violentamente quando você ta longe
E o tempo é um algoz que passa rastejando impiedosamente nesses momentos
Os ponteiros no relógio se petrificam
Acelerando ainda mais a minha inquietação/ minha angústia/
minha ansiedade/ meu medo
E o jogo permanece no zero a zero
Pois não houve gol nem pelo impedimento.

Parece que foi ontem que estávamos sentados num daqueles bancos
E você me contava despretensiosamente
Sobre seus planos para o futuro
Enquanto eu ouvia com atenção
E tentava sorver teu cheiro para dentro de mim
E disse também que tinha medo de arriscar
De trocar o certo pelo duvidoso
E perceber depois que foi uma má decisão
Mesmo sabendo que amanhã vai ser melhor que hoje
E que eu me apaixonaria por você todos os dias.

Você insiste em dizer
Que nós somos diferentes
Sem notar a graça da diferença
Que os diferentes se complementam
Afinal,  “o erro é onde a sorte está”,
Como diria um sábio contemporâneo
E eu prefiro ser otimista e acreditar que a gente vai se vê logo
Pois tudo tem um lado bom
E esse otimismo eu herdei de você
Herança espiritual, não genética
Assim como eu queria absorver também sua boniteza
Cobrir de amor a sombra do medo que persegue seus passos
Beber das águas cristalinas de tuas nuvens carregadas de saudade
Mergulhar fundo no rio de suas palavras
E me esconder com você nesse lugar escuro
Onde mais nada nem ninguém importa
Que é onde você se mostra crua & sincera
Nua e, talvez, minha
Também aprendi a ser meio fofo com você
Daqui a pouco eu desembesto a chamar os outros pelo diminutivo
(a propósito, não sei se você sabe mas eu me sinto ridículo quando chamo seu nome daquela forma abreviada)
E além de tudo isso
Ainda tento me livrar de algumas de suas
manias irritantes
Como aquela de emendar
Minhas falas com alguma música
Agora, qualquer coisa que alguém fala aqui em casa
Eu me lembro de uma canção, que me lembra você
Que me faz perceber que você ta longe
E que eu virei refém não só dos seus encantos
Mas, também, das suas manias insuportáveis.

Desculpa por ter te tirado a plenitude
Por ter subvertido sua paz
Peço perdão por ter bagunçado as meias na sua gaveta
Justo agora quando você pensou que finalmente
Encontraria o equilíbrio com os fatores externos...
Na verdade, eu não me desculpo porra nenhuma
Pois tenho coisas mais importantes para me preocupar
Como tentar lembrar a cor do vestido que
você tava usando no dia em que anunciou sua existência
Naquele auditório fechado.



parte IV - Redenção: Sobre As Coisas Não Ditas


Um terceiro corte no tempo, voltamos pro banco.
Adoro quando a luz fraca do poste cai sobre tua face
Permitindo-me desfrutar de todas as infinitas nuances do seu sorriso
Porra, você fica tão irresistível sob a luz rala
que paira sobre aquele banco...
Aí você começa a falar, a se queixar da vida
De como sua mãe, super protetora, pega no seu pé
De como ela te vê inchada nas fotos
De como você não gosta de ficar
De cara fechada no meio de gente
Mesmo quando você tá triste
De como você acha bonito e ao mesmo tempo estranho
Quando eu falo seu nome
De como você riu e dançou até cair no chão
Ouvindo um CD velho que eu te dei
Só pra ter uma desculpa pra falar com você de novo
De como você provavelmente faria alguma merda
E me beijaria sem culpa
Se não estivesse atrelada aos fatores externos
E é nesse momento que eu te olho reflexivo
Me perco no teu olhar fundo, porém cintilante
Vejo o jeito como você sorri, me mostrando seu mundo
E me fazendo sentir parte dele
Entro em êxtase emocional e percebo
a alegria crescendo no meu peito
Só por estar mais uma vez ao seu lado
E o resto me escapa da memória
Porque você tem esse dom de me tirar a atenção
De proscrever minha frustração
De me embriagar com sua voz doce e melodiosa de veludo
De me inebriar com a sua beleza rarefeita/ rústica/
enigmática/ submarina
E me distrai com seu sorriso fácil/ doce/ pueril/ profético/ apaixonante
Fazendo-me sentir protegido contra as maldades do mundo
E imune às intenções espúrias de alguns delinquentes sórdidos
Que insistem em vomitar clichês e julgar-nos por motivos fúteis
Mas, por mais sábios que eles tentem
parecer com seus conselhos torpes e falaciosos,
Eles sempre serão falhos
Pois eles não têm ideia da real dimensão das coisas.
Quantos versos mais eu vou ter que escrever/
Por mais quantas noites eu vou ter que me perder
Pra tentar encontrar a frase que traduza de maneira
impecável o que eu sinto por você?
Espero que o tempo seja benevolente dessa vez
Pois eu nunca vi gente como eu realizar sonhos.



parte V - Epílogo: Meu Infinito Atual


Eu queria ter o passe livre
Pra te encher de carinho
Te afagar até você se acalmar e dormir quando precisasse
Te ninar feito uma boneca de pano frágil
E te segurar no meu colo
Com a dedicação que você merece
Com a delicadeza que teu corpo pede, para não te deixar quebrar
Te cercar de cuidados, saciar seus desejos
Seus fetiches, suas vaidades
Fitar tua boca se fechando em direção à minha
Seus lábios morenos percorrendo meu corpo
Só pra ver o Sol nascer no meu peito mais uma vez
E se pôr no seu rosto, depois das seis.
Enfim, fazer todas essas coisas de gente abestalhada e patética
Até o fim dos tempos, se você quisesse
Ou pelo menos até o fim do inverno
Onde você amanheceria do meu lado
Percebendo que era só coisa de momento
E teus olhos se abririam lentamente
Para que eu pudesse te contar um segredo:
Você é a criatura mais linda que eu conheci nos últimos 245 dias.