segunda-feira, 27 de outubro de 2014

Oferenda

parte I - Autópsia


Tu és um caos sistemático
Uma bagunça coerente
Um gosto azedo na minha boca
Uma manhã cinzenta de domingo
Um natal pouco iluminado
Uma reminiscência que atravessa meu cérebro e me castiga dia & noite da maneira mais unilateral possível
Um mar morto e um campo de flores murchas, sem vida
Uma virada de ano sombria, sem fogos de artifício
Um soneto sobre indiferença, inconstância e bipolaridade
Uma escola de samba sem mestre sala nem porta bandeiras
Um tiro na noite no vazio do céu escuro
Um fracasso no amor, um amontoado de erros incandescentes
Suas péssimas escolhas refletem de maneira impecável quem tu és atualmente
E te definem de um jeito que eu nunca consegui definir com meus versos insalubres e injuriosos
Essas mesmas escolhas que também refletem a tua ruína atual e que um dia te assombrarão como fantasmas de um passado doloroso e monótono, com um nó apertado na sua garganta e um vazio sepulcral quando lembrar que todo mundo se comprometeu a entender os meus motivos, menos você, e perceber que tomou a decisão mais cômoda e equivocada possível, ao escolher o cais errado para atracar seu barco
Quando esse dia chegar, meu bem, vai sentir um nó tão angustiante no teu peito, que nem as suplicas mais poderosas serão capazes de me trazer de volta ao seu mundo
Enfim, caiu na tua própria armadilha.


parte II - Estrela do Oriente


Você teme esses sentimentos que dominam teu espírito sempre que reclina esse seu olhar irresistível, castanho e oblíquo sobre mim
E eu gosto de ser seu por inteiro
Um tiro no escuro do vácuo do teu próprio peito
O pagamento final
Esse eterno paradoxo ambulante, tão madura, fria, quente, imatura, deslumbrante, brilhante, fantástica e calculista ao mesmo tempo
Um problema que eu quero levar pra casa
Pra te condenar pro resto dos teus dias com o meu beijo mortal
Deixar meu corpo falar junto ao teu
E te enrolar nas minhas cobertas
Até que não haja mais motivos para pertencermos um ao outro
Mesmo que agora pareça tão óbvio quanto improvável
Que eu fui feito pra você e que merecemos todo o amor do mundo, por mais que não precisemos dele agora
(Precisamos dele).

Em todas as semanas dos últimos meses, lhe dediquei as melhores horas dos meus dias, te escrevi os melhores versos e os piores também (os piores também).
Escutei seus melindres, te falei para ser forte e não se preocupar tanto com o futuro, pois ele está sempre acontecendo.
Te mostrei que as diferenças são essenciais para que possa ser estabelecido um certo grau de equilíbrio.
Me mostrei para você da maneira mais lateral, enxuta, nua e sincera possível, caminhei ao teu lado 4 dias por semana (ou mais).
Guardei o meu pior comigo e te mostrei que a vida não tem que ser tão complicada assim.
Colei um cartaz de "procura-se" com várias fotos suas por todos os postes da cidade, e o tempo cuidou do teu regresso sem cobrar resgate.
Encontrei em ti as melhores características que eu poderia encontrar em alguém, mas encontrei as piores também e, por um tempo, enxerguei a mim mesmo em você.
Segurei teu coração na palma da minha mão e sorvi para dentro de mim toda a bondade e a delicadeza que pudessem emanar do teu corpo casto.
Mas a pior dessas semanas foi aquela em que, 01 dia após eu te agraciar com algumas palavras sinceras de carinho, você me presenteou com a sua frieza glacial e com a sua indiferença bem ensaiada, como se fôssemos dois completos desconhecidos, na porta da sala que se transformou em um cemitério de lembranças desagradáveis e angustiantes.

Mas o mínimo que eu espero agora é viver tempo suficiente
Para conseguir morar em todos os seus universos, voltar com você pro mar de onde saiu e, quem sabe, conseguir viajar ao centro da terra e dar a volta ao mundo em 80 dias, com o intuito de te trazer a terra média, a força, a massa, a aceleração, a guerra nas estrelas, as viagens interestelares, as aventuras intercontinentais, a república galáctica, as placas tectônicas, as crônicas, as guerras clônicas, os anéis, os brincos, as pulseiras e os cordões, as botas, os vestidos de seda, os casacos de veludo, o amor clandestino, as cores púrpuras, todas as estações, a orquestra imperial, todos os cometas, o pôr-do-sol, o antes e o depois, a sintaxe, a semântica, a gramática normativa, todas as vidas que eu tiver ao seu lado e todas as eternidades também, para que possamos coexistir na mesma superfície terrena, juntos, compartilhando da mesma tensão espiritual
E te mostrar que, à despeito da tua dissimulação e de toda petulância, algo que eu queria muito agora é uma cabeça pra recostar e dormir no meu ombro. De preferência a sua.

quinta-feira, 25 de setembro de 2014

Joia do Infinito

Vi você murmurar algumas inverdades a meu respeito e depois sorrir carinhosamente, como se já soubesse onde começa e termina a minha dor
Vi você me castigar com os olhos
Daquele jeito brilhante, peculiar e petulante que você sempre faz quando começo a tagarelar abobrinhas de maneira quase incontrolável
Vi você protegendo seu coração com um invólucro do qual você se recusa a se libertar
Vi você escondendo seus próprios mistérios para alimentar a sensação ilusória de controle sobre alguma coisa
Vi você com um coração na mão, não sei se era o seu ou o meu
Vi você perder o ar diante do meu toque e perder a tranqüilidade antes mesmo d’eu chegar
Vi seu coração disparar a cada movimento meu, mas não te vi chorar
Vi sua voz se calar perante a minha e vi você segurar as lágrimas diante de uma demonstração de carinho
Vi a pureza do seu coração banir a maldade e trazer de volta a claridade ao meu mundo
Vi você subestimar a tristeza
Vi você surgir abruptamente de outra extremidade, como quem pega carona num vórtice temporal
Vi meu passado ficar azul, meu futuro vermelho, meu presente caótico e meu coração sazonal
Vi você me calar com tua chegada e me sufocar com a partida
Vi você de mãos dadas com o acaso e de caso com a sorte
Entoando cânticos divinos nos meus ouvidos e irradiando sedução, glória, charme e simpatia por todas as ruas da cidade
Vi o sol cobrindo teus passos e desaparecendo atrás da sua casa antes que a primavera chegasse
Vi você fugir dos olhares maliciosos e dos julgamentos maldosos de alguns meliantes pouco perceptivos
Vi você beber da água da fonte onde nasce o amor
Vi você amar outra pessoa que não era eu
Vi você se desdobrar em duas, duas mil, driblar as intempéries do cotidiano, correr contra o tempo e transpor os obstáculos do dia-a-dia, só para perceber depois que você não precisa abraçar o mundo sozinha e que ninguém precisa ficar bem o tempo todo
Vi você me puxando de volta à superfície antes que eu fosse a náufrago
Para depois se afogar num denso mar de incertezas e indecisões
Vi você perdendo o sossego e a paz antes do seu coração tratar de reorganizar tudo dentro de ti
Vi tua gaveta de meias revirada
Vi você falando sobre o futuro, um futuro do qual eu não fazia parte
Vi você me negar com todos os dedos das mãos
Vi você confundir meus diálogos com trechos de músicas obscuras, me conquistar com suas desenvolturas ousadas e me fazer escravo do teu sorriso
Vi você me transformar em poeta, louco, malandro, sonhador, músico, escritor, sonâmbulo, apaixonado, amigo do tempo, amante da natureza, das estações, e inimigo da solidão

Vi você voltar
Vi você reinar sobre mim e, aos poucos, se transformar na minha joia do infinito.

segunda-feira, 22 de setembro de 2014

Ninfa

Num raio de 600 quilômetros
Você é, provavelmente, a pessoa mais doce que alguém poderia conhecer
Mas é a moça mais enigmática e indecifrável também
O que você tem de divertida, linda, incrível, perspicaz, delicada, inteligente, carismática e graciosa, tua alma tem de misteriosa e ao mesmo tempo magnífica, mística e pura
Mas é maravilhoso esse teu sorriso, e o outono foi a maior dádiva que Deus poderia ter lhe dado
Confiaria minha vida nas tuas mãos e furaria a fila na porta da tua casa todos os dias às 6h, só para ganhar o seu abraço
Se eu pudesse colocar numa música tudo o que você representa pra mim nesse presente, essa música tocaria nas rádios durante todo o mês de maio
Você brilha como uma estrela ainda não catalogada pelos astrônomos
E a beleza que te fortifica dia após dia, a força da sua presença e o 
Seu auto-controle são fenômenos que nunca poderão ser previstos pelos meteorologistas, muito menos decodificados pelos poetas mais eruditos
Aliás, esse seu auto-controle é algo admirável e terrivelmente assustador também, talvez essa seja sua maior habilidade atualmente
Talvez eu tenha pegado carona na calda de um cometa e me perdido entre os corpos celestiais
Talvez eu tenha me apaixonado pelo jeito que você anda
Pela sua pele cor de bronze
Pelos seus olhos entrepostos
Pelo jeito que seu cabelo balança contra o vento
Pela sua voz suave de menina acanhada
Pelo modo como você sorri mesmo depois de uma tarde extenuante e enfadonha de atividades acadêmicas
Eu retrocederia o tempo até o momento em que te vi pela primeira vez e faria tudo igual, mesmo sabendo do risco de perder meu sossego novamente
Faria a prova, me alimentaria com o medo da mudança
Entraria naquela sala e esperaria você passar atirando suas flechas no meio do alvo posicionado bem no centro do meu peito.

Deixa eu te contar sobre um sonho que eu tive
Um sonho onde você corria sobre um tapete de flores silvestres, numa tarde ensolarada de terça-feira
Enquanto o vento fazia ondas sutis no teu longo vestido de algodão
Eu caí no chão, te presenteei com o sol, peguei na tua mão e fui andando contigo pra algum lugar
onde nenhuma sombra, nenhum medo e nenhum inverno pudesse nos alcançar
Nós dois, juntos e imersos no mais completo absurdo, dobramos as lacunas do espaço-tempo e enganamos o silêncio mais uma vez
Como quem brinca de Deus a colorir os céus e os mares com todos os tons de azul que pudéssemos imaginar
Só pra ver a beleza cintilante e a sutileza plena da tua alma se atrelar à pequenez da minha num momento só nosso
Pensei em algumas palavras simples que pudessem traduzir a sinceridade da tua beleza, palavras que só fariam sentido pra você e eu, mas todas elas foram varridas da minha mente no momento em que deitaste sobre mim
E de longe eu vi seus olhos reluzirem e congelarem sob a neblina fina, acompanhados por um sorriso bobo e singelo, como dois cometas fleumáticos cortando a escuridão inebriante dos céus.

Queria poder te abraçar todos os dias só pra sentir o aroma fresco de mar que emana do seu cabelo quando ele arranha meu nariz.
Queria poder compartilhar contigo todas as ideias estúpidas, as propostas indecentes e os planos sobre a gente, que rondam minha cabeça quando estou ao seu lado.
Se meu cartão tivesse limite e o céu estivesse à venda, passaria todas as constelações, todos os astros, todas as estrelas em 12x e te entregaria uma por uma: uma a cada mês do ano, mesmo sabendo que isso seria meloso demais e muito pouco poético.
Queria poder dividir com você todo o meu amor, minhas tardes de domingo, meus pacotes de jujuba, todas as minhas tralhas, minhas quinquilharias, minhas meias, meus átomos, minhas piadas geniais, meu acervo pessoal de adjetivos direcionados exclusivamente a você e que só podem existir enquanto você sobreviver, meu conhecimento enciclopédico de filmes, minha coleção sofisticada de discos, meu gosto musical duvidoso, o abrigo quente das minhas cobertas, minha escova de dente, minha poesia, meus finais de semana, minhas roupas de cama, meu shampoo, minha casa no campo (se eu tivesse alguma), minhas loucuras, meu rock, minhas fraquezas, todas as minhas angústias, meus anseios e minhas inseguranças, te dizer todos os dias que te amo, e inventar qualquer desculpa esfarrapada pra poder te ver fora do horário comercial.
Poderia até viver a sina de um Deus, para decorar meu quarto com uma fotografia do teu sorriso, remodelar os mares, redefinir as luzes, as cores, unificar todas as galáxias e reconstruir o mundo de uma maneira que fosse perfeito pra nós dois.

Por fim, eu amarraria o céu com os fios quebrados do meu cabelo e o traria um pouco mais pra perto de ti, só para que você soubesse o que é acordar todos os dias saboreando as nuvens.

terça-feira, 2 de setembro de 2014

Delito

Já passam das 2 da manhã
E teu sorriso ainda me assombra num sonho tempestuoso
O seu toque me despedaça como soda cáustica
Minha pele queima e sucumbe à tua alquimia ácida
Teus braços quentes envolvem meu pescoço flácido
E com um sopro de vida, nós cometemos o mais terrível dos pecados
Recobro a consciência
Sinto teu rosto repousando levemente sobre meu peito frágil
Com a mesma delicadeza de uma gota de orvalho beijando a terra
Meus sinais vitais correm contra o tempo
E diminuem gradativamente na tela do monitor
Cada célula minha se esvai como areia no vento
Você foi responsável pelo meu alento
Arranho três acordes ralos no violão, perco a minha paz
Te dedico todas as canções de amor
E te beijo como um trovão feroz a percorrer os céus
Te dedico meus dias, choro mais uma vez no teu colo
(Logo eu que costumava ser como um leão valente...)
Me acostumo com a tua inconstância
E passo a admirar suas decisões mesmo quando elas não me favorecem
Entendo suas fraquezas, aprendo a conviver com teu lado obscuro
Um afago no seu rosto simétrico, um pedido de desculpas
Agarro tua pele morena e tu és agora a minha senhora
A vida pode ser turbulenta agora
Tudo pode parecer tão dolorido, tão óbvio e selvagem
Mas você tomou a decisão certa
E agora, nós estamos brincando de viver
Adiando o inevitável/ o impossível/ o absurdo
Portanto, esqueça tudo que te faz mal
Pois anularei seus medos e sustentarei teu sorriso com meu olhar
Segurarei teus braços e dançarei contigo essa valsa
No nosso baile de formatura.

Tu beijas minha testa e desfere o teu golpe de misericórdia
A gente se ama por alguns segundos
Meus dias se tornam mais claros
E como uma autêntica ilusionista, você esconde de mim suas cartas
Prestidigitando teu sofrimento apenas com um movimento suave de tuas mãos
Que é pra afastar o mau agouro, resgatar sua tranquilidade e regular
as batidas descompassadas que grudam em teu peito quando me aproximo
E eu caio na sua armadilha
Faço o seu jogo
Ora perco, ora ganho, ora me perco
Parece que voltou na defensiva, meio hostil
Tão amarga quanto vinagre
Pois percebeu que a distância não levaria embora tua agonia
Apesar do cartaz que ainda ostenta com orgulho
Uma fantasia de carnaval que te veste e te cobre absoluta
Mas ainda assim pegou um atalho e tomou decisões detestáveis
para se livrar desse suplício que é me querer
Como um sentimento tão frágil pode durar tanto tempo?

Eu entrego os pontos antes mesmo de você desistir da luta
Nado num mar de breves infortúnios, quase sem fôlego
Me silencio com a tua presença sublime, adorável, meiga & oceânica
Me desmantelo em dez pedaços
Me despedaço e me calo como um menino bobo, inexperiente
Nesse momento minha irreverência irritante vira pó
E o meu amor se transforma num generoso cálice de vinho
Que tu bebes sem culpa até a última gota
Só pra ter o prazer de me ver desarmado
E daqui do chão, ainda fragmentado,
Reúno todas as minhas cotas de amor
Te dissolvo na minha dor
E vislumbro um mundo nosso
Um mundo seu
Você e eu, o céu e o mar.

Pela manhã ainda me encontro desmontado
Mas quando chega a tarde
Você cata meus cacos
E eu renasço por inteiro
Forte, destemido, desinibido, visceral & furioso
Me refaço com teu cheiro glorioso, doce e angelical de gardênia
Ou seria lírio, tulipa, oliva, enzimas de aminoácidos eucarióticas?
Tanta gaveta pra bagunçar e eu fui bagunçar logo a de meias
Meias palavras, meias verdades.

Me deixa ser seu verão
Seu porto seguro
Eu quero estragar teu futuro
E ser teu amante
Eu quero estragar tua vida positivamente
                                                     [---- Deixa eu ser seu erro.

sexta-feira, 15 de agosto de 2014

Queda Livre #2

Hoje foi dia
De minha mãe dizer aqui em casa
Que você faz uma falta danada ---- [um disparate
Que você mancha de alegria nossas paredes ----- [uma heresia
Que você flerta despretensiosamente com o acaso -------[uma verdade
E quando vai embora, fica vazia a casa
Tão precisa quanto previsão meteorológica

Hoje ele acordou cedo
Querendo desbravar o mundo
Como quem brinca de arqueólogo no quintal
De pés descalços e olheiras circunspectas
Me perguntando: Porque você some assim?
Não conhece a peça, penso sarcástico

Hoje foi dia
De reclamarem tua ausência aqui em casa
Minha mãe sempre fala que você é um bom menino
Já eu penso em você como um legítimo facínora:
Não bebe, não fuma, nem fode
Extremamente talentoso com o violão
Cauteloso em suas declarações
Um exímio contador de piadas
Apreciador de boas canções
Bom companheiro de caminhadas
Péssimo conquistador de corações
Inimigo declarado do cinema europeu
Poeta, poetinha camarada
Sereno como ventos de maio
Domável e inversamente bravo como animal robusto
Pedra bruta inviolável, nunca perde o carisma
Pedra cúbica inalienável, aplacador de trovoadas
Educação de dar inveja aos mais nobres
fidalgos da realeza britânica
E mentiroso como meus versos póstumos

Alto/ pálido/ desengonçado/ esguio/ serelepe/
menino/ moleque/ malandro
Tem certos comentários que a gente faz calado
Mas reconheço com exatidão desgosto
Sem querer dar o braço a torcer, é claro
E com certa admiração pelas coisas imateriais:
Você faz uma falta danada.

quinta-feira, 14 de agosto de 2014

Queda Livre #1

Primeiramente, vamos deixar claro uma coisa: essa não é uma carta de suicídio, e sim uma mensagem natalina para o seu duplo, um atestado de óbito. Você nunca foi feliz sozinho, então pare de enganar a si mesmo com essas concepções ridículas e ingênuas, de que a satisfação é a morte do desejo, de que é melhor, às vezes, apenas desejar algo do que realmente tê-lo. De certo modo, eu até sentia pena quando você dizia que não precisava ter ninguém do seu lado pra ser plenamente feliz, mas saiba que nunca deixei de te apoiar nas suas decisões, pois a maior parte do tempo em que você ficou sozinho enquanto seus amigos se deixavam seduzir pelas libertinagens selvagens e descompromissadas, você aprendeu com os erros dos outros. Sempre admirei o fato de você nunca ter se envolvido muito e preferido acreditar que existia alguma lógica por trás disso, te preparando pro dia em que algo realmente especial chegasse. Bom, talvez esse tenha sido o seu maior erro. Você nunca foi dono de fortaleza celestial, e quando era alvo de humilhações e comentários levianos a respeito da sua conduta infantil e puramente imatura, lembre-se de que você mereceu todos eles.

Em segundo lugar, antes que você comece a proferir injúrias e pragas que até o diabo reprovaria, do jeito que você sempre faz quando é contrariado, com seus ataques histéricos e desequilibrados, gostaria de esclarecer que fiz de tudo para não recorrer a ofensas, adjetivos depreciativos e jocosos a seu respeito nesse manifesto, mas é difícil abrir mão deles quando a pauta é você.

Em terceiro lugar, não importa onde você esteja agora, ou que tipo de ser humano você tenha se tornado, mas eu queria dizer o seguinte: o mínimo que eu esperava era que você reconhecesse que relacionamentos nunca te atraíram muito, e que você sempre foi muito covarde para eles. Espero honestamente que, ao encontrar essas anotações perdidas numa gaveta de um criado-mudo qualquer, você já esteja velho suficiente para perceber o quão descartável e degradante está sendo seu presente.

Peço também, em nome de todos os santos, que pare de falar sobre o amor, sobre outros sentimentos obscuros e iníquos que nunca fecundaram seu coração e só te levaram à ruína emocional e à mais pura consternação, te afundando no mais profundo poço de arrependimento e amargura por não ter se permitido sentir e se deixado enganar pela formosura de qualquer donzela insensível, completamente fora do raio de alcance desses poemas xucros, podres, pífios e sem importância que você escreveu com tanta sinceridade, mas que ninguém jamais leu. Deixa de ser trouxa e pare de ver o lado humano das pessoas, isso tá se tornando um vício, tá te fazendo escravo e tá te deixando sem cor, sem vida... apático.

Outra coisa também, antes que eu me esqueça: você sempre achou que esse negócio de “personagem” fosse pura baboseira, besteira e desculpa de quem é orgulhoso demais e tem medo de compartilhar seus sentimentos. Em até certo ponto eu concordo contigo, meu caro amigo, pois sempre lamentei o fato de você ter a criatividade limitada e nunca ter conseguido bolar situações fantasiosas e sentimentos imaginários pra escrever essas merdas que você chama de poesia. Quando eu olho com desdém e certo escárnio pro teu reflexo no espelho, lembro de como as coisas eram menos dolorosas quando a gente ainda não conhecia o mar. Sim, eram menos dolorosas, mas também eram meio sem graça, a vida parecia monocromática e a gente não tinha fôlego para escrever. O amor não-fecundado é seu combustível.

Quando sentir medo do escuro e tatear ao seu redor à procura de um porto seguro ou algo para te salvar, quero que feche os olhos por alguns instantes e tente se lembrar da mocidade, da casa, dos natais em família, do carnaval, dos filmes hollywoodianos de ação que você parou pra assistir na televisão com o seu pai, dos mesmos discos que seu pai ouvia incansavelmente todas as manhãs de domingo enquanto entornava o elixir da vida, das raras vezes em que você cruzou com alguma garota e sentiu que Deus te botou nesse planeta imundo para estar com ela, das vezes raras que você olhou fundo nos olhos de uma moça, vislumbrou o mundo e se apaixonou pelos seus segredos, pelas suas curvas... Das pessoas que você magoou, das que ficaram pelo caminho, das que te amavam e das que tentaram te alcançar, mesmo que tenha sido apenas com um sorriso ou com um aceno tímido. Lembre-se dos textos ridículos e melosos, repletos de sensibilidade fajuta que você escreveu enquanto tentava alcançar as estrelas com as próprias mãos.

Sei que é pedir muito e que é algo quase impossível, mas no teu futuro incerto, quero te encontrar mudado, determinado, mais cínico também e mais realista, com uma árvore repleta de rosas secas e murchas no fundo da sua casa, pois você nunca a regou como regaste seu coração com falsas promessas, sorrisos enganosos, olhares maliciosos, julgamentos superficiais e comentários falaciosos.

Quero ver pelo menos duas ou três rachaduras em cada cômodo do muquifo que você chamará de lar, e que, quando você olhar para elas, você perceba que todas essas notas sobre o amor só te afundaram ainda mais na lama densa e pastosa que é a sua ínfima existência.

Quero te ver com um ou dois filhos bastardos espalhados pelo mundo, mundo este que você nunca conheceu, pois sempre teve medo do que poderia encontrar ou de quem poderia amar se resolvesse sair da bolha que construiu sozinho, botar o pé pra fora do seu quarto e contrair essa doença terminal que todos chamam de “vida”, para se aventurar pelo submundo espúrio, ora enigmático ora obscuro e duvidoso da felicidade.

Quando você amanhece ranzinza numa manhã cinzenta de domingo, até já imagino o estado lamentável que vai passar o restante do dia, ouvindo músicas tristes, deitado na cama que você considerou por muito tempo como a terceira margem do seu rio, com a cabeça sobre o travesseiro, vez ou outra beliscando alguma coisa na cozinha, planejando dormir por mais 18 horas seguidas, como se o mundo lá fora não te importasse muito, recusando qualquer tipo de contato exterior, pensando naquela garota que, por uma intervenção cruel e sádica de algum filho da puta intitulado ‘acaso’, nunca foi sua. Me machuca te ver desse jeito, com tuas camisas furadas de banda, com teu cabelo rebelde, subversivo e sem corte, com seus tênis surrados, com seu pessimismo típico e sutil, com tua falta de trato peculiar e com a vontade de chorar que me dá quando sinto teu cheiro impregnado em todo perímetro das suas roupas de cama. Esse, talvez, foi o auge da sua juventude mesquinha, foi quando você achou que era verdadeiramente feliz, sem perceber que os dias gloriosos nunca chegariam.

Quero que pare de choramingar igual um lunático retardado pervertido manipulador e aceite o fato de que você nunca teve nada e que é tarde demais pra tentar correr atrás de alguma coisa. Talvez, as únicas coisas que tenham te sobrado foram:
01) As velhas camisetas quadriculadas, porém emboloradas, enterradas no fundo de suas gavetas;
03) As meias rasgadas que você usava para aquecer os pés sempre quando tava frio;
04) A vontade de ter um abraço apaixonado para te aquecer;
05) Suas calças de moletom que hoje batem no joelho, porque o tempo fez o favor de te esticar um bocado;
06) Os discos arranhados que você insiste em ouvir repetidamente durante o alvorecer da noite, em busca de uma fuga pros dias nublados;
07) As mais belas letras de canções que você queria ter escrito;
08) A sua tendência de deixar para depois as coisas importantes;
09) A sua dificuldade de dizer as coisas importantes;
10) Sua pré-disposição pra falar besteira em momentos inapropriados;
11) Os amigos que ainda hoje reclamam que você tá sumido, mas nunca foram te fazer uma visita;
12) Os bolsos furados de suas calças que você tanto tateava à procura de abrigo;
13) Os livros velhos na sua estante;
14) Alguns bottons e quadros de bandas que você pendurava orgulhosamente nas paredes do seu quarto;
15) Algumas fotos que você tirou de má vontade perdidas num HD;
16) A lembrança de um sorriso feminino doce e quente que repousou gentilmente sobre tua alma certa vez, mas que você deixou escapar como quem deixa escapar a própria vida pelas mãos.

Quero que perceba que todas as coisas que você nunca teve, foram as que mais desejou;
Que perceba que todas as pessoas para quem você deu as costas e ignorou, foram as que mais te amaram e te queriam por perto;
Que perceba o quão rápida, fugaz e passageira foi sua existência;
Que perceba que foste traído pelos seus próprios sentimentos;
Que perceba que suas lágrimas foram drenadas pela saudade;
Que perceba que você deveria ter valorizado mais um abraço, um aperto de mão, um telefonema de um amigo preocupado, os pássaros compondo melodias élficas e angelicais do outro lado da janela, anunciando a primavera, ou o simples rufar gotejante da chuva violentando o teu teto;
Que você nunca conseguiu o emprego dos sonhos, nem o carro do ano, nem o amor verdadeiro;
Que o Sol é pontual e que seu coração outrora mole, frouxo e ingênuo, hoje consumido pela arrogância, pelo abandono, pelo embuste e pelo desmazelo, bate com ajuda de aparelhos e não passa de uma casa velha, vazia e em ruínas, pronta para ser demolida a qualquer momento, quando você desejar.

terça-feira, 12 de agosto de 2014

Meridional

parte I - Prólogo: Sobre Te Querer


Há 1 ano atrás eu me encontrava em estado lastimável
Completamente sem foco, sem direção, sem objetivo
Aí veio o edital, a inscrição, a prova
O resultado, o medo, a preguiça, a ansiedade,
a matrícula, você, a faculdade, o mundo novo,
Você de novo.
Eu nunca soube lidar muito bem com princípios, com mudanças
Sempre tive medo de sair desse pequeno invólucro lamentável
Que construí para tentar preencher o vazio e fugir um pouco
Da minha rotina degradante, além de alimentar a falsa
Sensação e ilusão de que tenho controle sobre minha vida
Também nunca fui muito bom de rima/ de dar passos importantes
Nunca tomei curso de métrica
Mas sentimento é coisa séria
E precisamos escolher com sabedoria
as palavras que irão representá-los.
Parece que foi ontem que estávamos
Sentados num daqueles bancos
Quando você me olhou cheia de si e disse que eu falo muita merda
E que meus exageros são divertidos
Ou sobre as inúmeras outras vezes
Em que você me mandou falar baixo
Fazendo questão de me humilhar e enaltecer
O meu exímio talento de abrir a boca pra falar besteira
Ou da vez que você me mandou - com rispidez -
parar de te mandar mensagens, por causa dos fatores externos
E depois veio desesperada se redimindo
Como se o seu comportamento tivesse me deixado magoado
Ou daquela vez em que eu – cheio de intenções - te vi caminhando apressadamente
Com tuas passadas sincrônicas e formosas
Dentro daquele auditório fechado
Poluído de gente mal intencionada
Segurando aquela sua saia enorme de cair
Prestes a me apunhalar impiedosamente no peito
Minutos antes de assinar o meu atestado de óbito
Mesmo sem saber
Foi aí que eu chorei
Feito um matuto ao ver o Mar pela primeira vez
E você não precisou alimentar nada em mim
Nem tentou me alcançar, apenas me seduziu
E eu me apaixonei dentro daquele auditório fechado.

Como as coisas podem mudar tanto em tão pouco tempo?



parte II - Insurgência: Sobre Te Esperar


Houve um corte temporal.
Sentado naquele banco contigo
Com a paisagem celestial nos escoltando lá do alto
Eu olhava com desprezo e inquietação
Para todos os ônibus que passavam
Desejando que o seu demorasse uma eternidade
Para que eu pudesse ficar mais um tempo com você
Me perdendo no seu sorriso
Nas curvas do seu corpo imaculado
Contemplando seus cachos
Suas pernas grossas
Sua cintura fina
Seu olhar perscrutador, castanho e oblíquo
Como se estivesse tentando descortinar minha agonia
Para que ainda me sobrasse tempo de te falar mais algumas besteiras
E te fazer mais propostas indecentes
Antes de você ir embora e levar meu coração contigo
Pois mais cedo ou mais tarde o seu ônibus passaria
E seguiria implacável rumo à cidade
Me distanciando do teu corpo modelado
Pelos próprios deuses
Feito um artefato sagrado e inviolável
Adornado de doçura & proporcional à sua idade
Em que eu sempre faço questão de tocar
Mesmo sem saber até aonde eu posso tocar
Mas eu preciso
Nem que seja apenas para beijar as suas mãos mornas de ternura
Que é pra ver se você se descontrola
Esquece um pouco da razão
E seja minha por apenas alguns segundos.

Reduto de toda a beleza
Aurora de todo sentimento
Minha história contínua
Caminho não percorrido,
Você sempre leva meu coração embora contigo
Quando entra naquele ônibus
E eu tento sintonizar a cabeça com o coração
Afastar a melancolia que volta quando você vai embora
Fingir que está tudo bem
E aí você se despede e me recomenda
de maneira serena, sincera, porém quase debochada e presunçosa:
“Não chore não, viu?”
Como se estivesse antecipando o meu pranto
Mas logo me sinto privilegiado/ envaidecido
Quando leio esses teus versos vespertinos
E me sinto honrado ao ler
Todas as coisas simples e lindas
Que você escreve com sentimentos reais
Mesmo quando você teima em se enganar
Usando a mesma desculpa esfarrapada de sempre
De que é só o “personagem” (até parece)
Às vezes eu me pego nesses momentos de fragilidade emocional
E me sinto um pouco ridículo
Quando tento transformar o Sol numa bússola
Que aponta pra uma só direção
Que me norteia pra perto de ti
Com a incerteza de que você vai estar lá para me receber
Ou quando deito a cabeça sobre minhas mãos no travesseiro
E você aparece de ousada nos meus sonhos
Sem ser convidada
Mas logo acordo novamente
E conto até 10 para abrir os olhos
Na esperança de que você esteja lá
Para me presentear com o seu jeito meigo e adorável
de sentenciar: “você é doido, Marcus!”
E aí eu percebo o quanto eu sou patético:
Quando tento adivinhar com qual roupa
Você está vestida neste momento enquanto está lendo isso
E se o seu cabelo estará preso ou solto
Dançando deliciosamente com o vento
Na próxima vez que eu te encontrar.
Te esperarei...
De novo. 



parte III - Apoteose: Sobre Te Perder


Outro corte no tempo
Não sei se você percebeu,
Mas meu cérebro trabalha de maneira incrivelmente curiosa.
A essa altura do campeonato
Eu já estou acostumado com esses versos alcalinos e corrosivos
Anestesiado pela saudade
Que castiga meu peito violentamente quando você ta longe
E o tempo é um algoz que passa rastejando impiedosamente nesses momentos
Os ponteiros no relógio se petrificam
Acelerando ainda mais a minha inquietação/ minha angústia/
minha ansiedade/ meu medo
E o jogo permanece no zero a zero
Pois não houve gol nem pelo impedimento.

Parece que foi ontem que estávamos sentados num daqueles bancos
E você me contava despretensiosamente
Sobre seus planos para o futuro
Enquanto eu ouvia com atenção
E tentava sorver teu cheiro para dentro de mim
E disse também que tinha medo de arriscar
De trocar o certo pelo duvidoso
E perceber depois que foi uma má decisão
Mesmo sabendo que amanhã vai ser melhor que hoje
E que eu me apaixonaria por você todos os dias.

Você insiste em dizer
Que nós somos diferentes
Sem notar a graça da diferença
Que os diferentes se complementam
Afinal,  “o erro é onde a sorte está”,
Como diria um sábio contemporâneo
E eu prefiro ser otimista e acreditar que a gente vai se vê logo
Pois tudo tem um lado bom
E esse otimismo eu herdei de você
Herança espiritual, não genética
Assim como eu queria absorver também sua boniteza
Cobrir de amor a sombra do medo que persegue seus passos
Beber das águas cristalinas de tuas nuvens carregadas de saudade
Mergulhar fundo no rio de suas palavras
E me esconder com você nesse lugar escuro
Onde mais nada nem ninguém importa
Que é onde você se mostra crua & sincera
Nua e, talvez, minha
Também aprendi a ser meio fofo com você
Daqui a pouco eu desembesto a chamar os outros pelo diminutivo
(a propósito, não sei se você sabe mas eu me sinto ridículo quando chamo seu nome daquela forma abreviada)
E além de tudo isso
Ainda tento me livrar de algumas de suas
manias irritantes
Como aquela de emendar
Minhas falas com alguma música
Agora, qualquer coisa que alguém fala aqui em casa
Eu me lembro de uma canção, que me lembra você
Que me faz perceber que você ta longe
E que eu virei refém não só dos seus encantos
Mas, também, das suas manias insuportáveis.

Desculpa por ter te tirado a plenitude
Por ter subvertido sua paz
Peço perdão por ter bagunçado as meias na sua gaveta
Justo agora quando você pensou que finalmente
Encontraria o equilíbrio com os fatores externos...
Na verdade, eu não me desculpo porra nenhuma
Pois tenho coisas mais importantes para me preocupar
Como tentar lembrar a cor do vestido que
você tava usando no dia em que anunciou sua existência
Naquele auditório fechado.



parte IV - Redenção: Sobre As Coisas Não Ditas


Um terceiro corte no tempo, voltamos pro banco.
Adoro quando a luz fraca do poste cai sobre tua face
Permitindo-me desfrutar de todas as infinitas nuances do seu sorriso
Porra, você fica tão irresistível sob a luz rala
que paira sobre aquele banco...
Aí você começa a falar, a se queixar da vida
De como sua mãe, super protetora, pega no seu pé
De como ela te vê inchada nas fotos
De como você não gosta de ficar
De cara fechada no meio de gente
Mesmo quando você tá triste
De como você acha bonito e ao mesmo tempo estranho
Quando eu falo seu nome
De como você riu e dançou até cair no chão
Ouvindo um CD velho que eu te dei
Só pra ter uma desculpa pra falar com você de novo
De como você provavelmente faria alguma merda
E me beijaria sem culpa
Se não estivesse atrelada aos fatores externos
E é nesse momento que eu te olho reflexivo
Me perco no teu olhar fundo, porém cintilante
Vejo o jeito como você sorri, me mostrando seu mundo
E me fazendo sentir parte dele
Entro em êxtase emocional e percebo
a alegria crescendo no meu peito
Só por estar mais uma vez ao seu lado
E o resto me escapa da memória
Porque você tem esse dom de me tirar a atenção
De proscrever minha frustração
De me embriagar com sua voz doce e melodiosa de veludo
De me inebriar com a sua beleza rarefeita/ rústica/
enigmática/ submarina
E me distrai com seu sorriso fácil/ doce/ pueril/ profético/ apaixonante
Fazendo-me sentir protegido contra as maldades do mundo
E imune às intenções espúrias de alguns delinquentes sórdidos
Que insistem em vomitar clichês e julgar-nos por motivos fúteis
Mas, por mais sábios que eles tentem
parecer com seus conselhos torpes e falaciosos,
Eles sempre serão falhos
Pois eles não têm ideia da real dimensão das coisas.
Quantos versos mais eu vou ter que escrever/
Por mais quantas noites eu vou ter que me perder
Pra tentar encontrar a frase que traduza de maneira
impecável o que eu sinto por você?
Espero que o tempo seja benevolente dessa vez
Pois eu nunca vi gente como eu realizar sonhos.



parte V - Epílogo: Meu Infinito Atual


Eu queria ter o passe livre
Pra te encher de carinho
Te afagar até você se acalmar e dormir quando precisasse
Te ninar feito uma boneca de pano frágil
E te segurar no meu colo
Com a dedicação que você merece
Com a delicadeza que teu corpo pede, para não te deixar quebrar
Te cercar de cuidados, saciar seus desejos
Seus fetiches, suas vaidades
Fitar tua boca se fechando em direção à minha
Seus lábios morenos percorrendo meu corpo
Só pra ver o Sol nascer no meu peito mais uma vez
E se pôr no seu rosto, depois das seis.
Enfim, fazer todas essas coisas de gente abestalhada e patética
Até o fim dos tempos, se você quisesse
Ou pelo menos até o fim do inverno
Onde você amanheceria do meu lado
Percebendo que era só coisa de momento
E teus olhos se abririam lentamente
Para que eu pudesse te contar um segredo:
Você é a criatura mais linda que eu conheci nos últimos 245 dias.