quinta-feira, 28 de julho de 2011

Primária

És musa de beleza superior
Dama de caixinha de surpresa
És o encosto sadio do meu bel-prazer
Certeza absoluta em não desmanchar
Separo seus cabelos dos meus pra não deixar os seus morfarem.

És a presença que eu reluto em afastar das minhas reminiscências
Brigo com as discórdias que levam meus pensamentos a caminhos tortuosos
Separo a sombra da dúvida, a clareza da razão
Escrevo sobre teus cadernos também conhecidos como alma
Pois se existe algum peixe, ele sou eu: fora d'água.

Anseio à teus seios me dirigir, controlo meu modus operandi
És o meu astral em ascensão, corrilheira, estrada e deslumbramento
Meus olhos são pobres vítimas inocentes apenas
De dia, menino
De noite, escravo
Pois tu se intromete nos meus sonhos, e eu tomo a dor como filha
Em outros tempos anunciariam e gritariam enérgicos e ansiosos nos microfones o nosso encontro
Hoje nos chamam de íman e eu procuro afoito o campo magnético
                                                                          / sonho de novo.

quarta-feira, 20 de julho de 2011

De Noitinha

- Descrença de quê, ser do espaço?

- Na matemática da porra da minha vida.
Não consigo resolver as equações e já passam do 2º grau.

- Hum... Explica. Fatos exemplificam melhor.

- Porra, e quando você não sabe exatamente o que está acontecendo?
  Aparentemente tá tudo bem, mas eu sei que tem alguma coisa errada em algum aspecto recentemente exposto à minha prova. Tô frustrado de não saber o que é pra quebrar a cabeça tentando resolver.
Me sinto vulnerável.

- Hum... E você sabe o que quer pro futuro recente?

- Perco o foco. Às vezes eu penso saber, mas desmancha de novo, tá ligado?

- Umhum. Vai ver é isso, falta de foco.

- E pode parecer meio egoísta da minha parte não me esforçar o suficiente pra desencadear o entendimento, mas num vou forçar não.

- Se não for você, quem vai?

- "Se não for eu, quem mais vai decidir..."
   Deixa estar.


Parece que eu tô negligenciando isso demais...

terça-feira, 12 de julho de 2011

Onipresença

Despeja desse céu límpido ao qual me ponho a checar nas manhãs
Tua misericórdia de eternidade
Sobre os campos vazios, sangrentos
Outrora tomado por teu povo
Que chegam em punhado aos pés do trono divino
Quero poder sentir de tuas mãos complacentes
                                                           / a plenitude que ficará ao vir

Lembrado seja meu choro
Que pelo ralo da pia desce em exagero
Não deixes que eu pense que menos valia
Diante de tanta ocupação por preocupação distinta
Mas que tuas olímpias sejam pra sempre abertas
Pois bem-aventurados aqueles que recordam o que foi lhes concedido
Não mais do que aqueles que concedem e foi-lhes esquecido

Largados aos pés da estrada, abandonados, olhai por teus filhos
Frutos alegremente teus, à seu traço e justa divisão de grãos
Que eles sejam levados e guardados
Protegidos pela tua conhecida bondade

Diria eu, determinado, que não há cidade ou pasto coberto
que não se revele diante do teu olhar atento
Ainda que por muito tempo demore-me de chegar
                                                                       / a vontade de rir.

sábado, 2 de julho de 2011

Fugídias

Me levantei a uns dois dias atrás e lembrei que os dias
entraram em união e que o tempo cintilou para que se completasse
1 ano de pura necessidade de escrever para o esquecimento.
Resolvi que estou jovem demais pra desistir, mas eu vou continuar lapidando
as palavras que nascem com o grito retumbante, espantadas
com o mundo a que se sujeitaram. Desde sempre tive essa afinidade
duvidosa com as palavras, sem etimologia aprofundada,
foi um estudo que veio como bônus - fragmentado - no kit da vida.
Às vezes, inspiração vem, faz morada um pouco e depois vai embora,
pois sei que nenhum estopim poético seria determinado e forte suficiente
para habitar minhas válvulas por muito tempo.
Dou um tapa na minha cara e tudo que me vem à mente é aquele menino que
estava aprendendo a acolher as palavras que chegavam num viés categórico,
intransigente, furtivo e exigente.
Eu não sei se vocês sabem, mas esse ano me apresentou uma gama de oportunidades
de abandonar minha produtividade (já ínfima) num ramo profundo de esquecimento:
ainda estou analisando delicadamente a proposta,
pois apesar da facilidade com os textos, sempre me sobrou um pouco
de receio em como expulsar as ideias e delineá-las
de forma a suportarem uma ausência de inspiração de 300 mil toneladas.
Aí é quando inexplicavelmente elas me aparecem: palavras abraçadas carinhosamente
com o único objetivo de me servir de abrigo sem se preocuparem com o perigo
de serem registradas nos poços mais profundos e
abandonados do não-serem recordadas, de nascerem como aborto.

Escrever é uma tarefa que requer papel, caneta, empenho, afabilidade
com sua própria visão de mundo e sobretudo: amor.
Escrevo pra arrancar de mim os momentos límpidos, ora furiosos e abismáticos;
Entorno a discordância só a fim de procurar um outro significado pro meu
despertar-pra-vida.
Nem sempre me encerro em otimismo, até porque não dá
pra ser feliz o tempo todo.


Se tu queres escrever, amigo, saiba que as palavras são como algumas aves:
raras, aparentemente mansas mas ariscas, de difícil trato, porém finas,
delicadas e que com o menor descuido seu escapam e voam para bem longe,
pois não querem ficar presas a vida toda.