domingo, 24 de abril de 2011

Serenata

Cidade, metade minha
Que para sempre me tomou
Traga de volta essa rosa flutuante
Para enfeitar a minha dor

Doce sonho meu
Que de boa vontade me atormenta
Leva de volta esse prato sujo
Que o coração não me acalenta

Noite - vazia - chora
Meu pranto afirmou-se incerto
No peito a saudade demora
Em alguém que não tá perto

Dissimulado poço de ternura
Que meu âmago ainda invade
Longa será sua demora
Pra esse amor que não tem idade.

quinta-feira, 14 de abril de 2011

Tropeço

Mesmo trancado e sujo
Teu coração no mais profundo das raízes do esquecimento
Teu amor doentil ainda prevalece
Mas, pela falta da qual nos tenhamos dado ambos,
Ele afundou também como uma rajada no mesmo poço profundo
Que abriga os mais claros e gélidos impetos do teu pesar - penar
E ainda agora talvez credes ter achado outro mundo
para te sustentar e te manter de pé, como um genérico
de uma era outrora vivida

Pois saiba, menina atrevida
Que até depois do assombro,
Antes que antenasse para resgatar esse teu amor corrompido,
Deteriorado com a sua falsa sanidade --- dirijo-lhe minhas sinceras condolências
Ele já terá sido devorado
Pelos enfermos vermes dessa cidade.

domingo, 10 de abril de 2011

Ode Às Noites Em Claro

De todas as reações que saltaram em vista
Dos mais sigilosos desvios que tomaram seus passos tímidos
Dos ditos feitos
Dos braços abertos / fechados / amavelmente receptivos
Dos distantes e significativos olhares
De todas essas coisas juntas ou fragmentadas com um leve sopro de vento
Minha armadilha, há muito esquecida, me pegou de tocaia
Traiçoeira e irreversivelmente recheada de dúvidas quanto
à sua já esperada partida
------------------------------ A gente ria

Embriaguei-me à claridade da sua avidez em sentir carinho
Ou tolerar meu talvez previsível comportamento instável
De quem se preocupa quanto às maneiras de fazer
as folhas balançarem quando não há nem uma gélida brisa entre elas
O mundo se mostrou ansioso e encantador
Reconheci a falha: Fui ao encontro deste
Mas ali me vi afastado do seu colo
Adiei a partida

Voltei derrubando todos os jarros forjados
Num ambiente onde se misturavam perfumes
com notícias de que suas mechas, incontestavelmente loiras
sob minha visão, permaneciam incólumes à mínima mudança do tempo
Confundi algumas portas, girei várias maçanetas erradas
E em algum ponto, me veio a ideia de que eu precisava parar
De fazer alusões ou movimentar meus lábios em código
Enfim, o perfume certo veio serpenteando o ar pesado
Dei de cara com a neve e o campo alvo de algodão
Que a sua tez me fazia lembrar --------------------

Tuas pálpebras se fechavam num gracioso movimento do teu corpo
Cansado dos motivos do mundo, flutuei no teu sono profundo / leve / breve

Já se aproximava das 5 da manhã.